Segunda-Feira - 13.07.2011- ESTAÇÃO DO CAMINHO DA GRAÇA - D.CAXIAS - RJ

Segunda-Feira - 13.07.2011- ESTAÇÃO DO CAMINHO DA GRAÇA - D.CAXIAS - RJ
JESUS CRISTO, É O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA.

DIVULGAÇÃO DE ENCONTRO DE ESTAÇÕES NO RIO DE JANEIRO.

EDITOR DESTE BLOG: CARLOS VARGAS ( CEL. 21-9863-1122).

PRÓXIMO ENCONTRO DE COMUNHÃO DA ESTAÇÃO CAMINHO DA GRAÇA EM DUQUE DE CAXIAS ( Ligue para os tels abaixo)

ENDEREÇO:RUA PROFº DE SOUZA HERDY, Nº 994 ( RUA DA AFE - UNIGRANRIO ).NA OUTRA QUADRA APÓS O BAR DO ZECA NO SALÃO DO TILKAS. NO TOLDO AZUL.

INFORMAÇÕES: Ricardo Cel.:9456-2566 ( CLARO)/ Cel.8844-6269 Cláudio.Traga doações de cobertores e alimentos não pereciveis,para assistência aos desabrigados.

O CAMINHO DA GRAÇA é um movimento em movimento que se identifica com o EVANGELHO de Jesus de Nazaré e com todos que se identificam com o EVANGELHO.

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Todos os dias as 09H00 você pode assistir o PAPO DE GRAÇA ao vivo com Caio Fabio e o dia todo você pode ver e ouvir do EVANGELHO de Jesus de Nazaré assistindo a VEMEVETV.

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Recomendamos aos que desejam saber mais sobre o conteúdo do que ensinamos no Caminho da Graça que leiam as reflexões no site www.caiofabio.net , leia os livros SEM BARGANHAS COM DEUS, ENIGMA DA GRAÇA e o CAMINHO DO DISCIPULO ou acompanhe pela VEVTV as QUARTAS FEIRAS 20h00.

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Todos são bem vindos entre nós.

Graça, paz & todo bem.


Numa Estação do Caminho da Graça você encontrará o que Jesus encontrava pelo caminho — ou seja, GENTE! Gente quase sem problemas. Gente com problemas. Gente com muitos problemas. Gente atolada em problemas. Gente-problema. Gente solucionadora de problemas apesar de serem perseguidos por problemas. Gente se casando. Gente que chegou descasada e se recasou. Gente que vivia traindo e parou de trair. Gente que ainda trai. Gente que se encara. Gente que mente e nunca se encara. Gente que muda. Gente que ouve, ouve, gosta, mas não muda. Gente madura. Gente infantil. Gente que entendeu. Gente que está entendendo... Gente que não entendeu nada ainda. Gente que vai lá e supostamente anda conosco por interesses de todas as ordens... Gente que logo vê que é vista em sua dissimulação. Gente que aceita a verdade. Gente que gosta de tudo até que a verdade as moleste.

domingo, 30 de setembro de 2007

A PESQUISA DE JESUS

Quem a multidão diz que eu sou? — indagou Jesus de Seus discípulos enquanto andavam na direção do Monte Hermon, no Norte do país, até a cidade de Cesareia de Felipe, erguida no sopé da montanha.

Responderam eles: Uns dizem que é João, o Batista; outros, Elias; outros, Jeremias, ou algum dos profetas. Mateus 16:14
Ora, entre a classe educada e culta dos judeus, o que se dizia de Jesus era que Ele era louco, endemoninhado, samaritano surtado, blasfemo, demolidor do Templo, destruidor da Lei, transgressor dos costumes, e um aproveitador da ingenuidade da plebe que nada sabia de religião; ou seja: da lei.

Isto, porém, era o que eles diziam em seu ódio apaixonado e ardente de inveja e de temor de perda de poder. No entanto, nem todos pensavam conforme diziam e confessavam; pois, houve quem dissesse: “agora ele fez um sinal que não podemos negar [a ressurreição de Lázaro], se o deixarmos, virão os romanos e tomarão nossos postos e o país”; e completa João: “pois por inveja o entregaram.”

Assim, entre o que a elite diz e o que ele vê, sente e de fato enxerga, há, muitas vezes, uma insinceridade de dimensões abissais. No entanto, o povo, ou as multidões, como designou Jesus, tende a ser mais sincera em sua apreciação nem sempre profunda. Todavia, todas as opiniões do povo sobre Jesus, ainda que aquém de Quem ele fosse, foram positivas e o relacionavam a gente boa como João Batista, Elias, Jeremias ou algum dos profetas antigos.

O interessante é que o povo não teve interesse em semelhanças e nem em lógicas, mas apenas em demonstração de intrepidez e poder. Sim! Porque se tivessem associado Jesus a poder apenas como milagre, teriam que ter mencionado além do nome de Elias [um realizador de sinais], o nome de Eliseu, ou mesmo Moisés.

Mas não dava para associar Jesus a Moisés, pois, em relação a Moisés, Jesus sempre tinha um “eu, porém”.

Interessante é que ninguém do povo parecia se preocupar com o fato de João Batista ter morrido depois de ter batizado a Jesus, e depois de Jesus já ser Jesus para todo o povo. Era como se tivesse havido uma ultra-incorporação. Além disso, parecia também não importar que ambas as personalidades, de Jesus e de João Batista, fossem tão díspares. Ou seja: o que interessava ao povo era ter um representante ousado e que fosse a continuidade sobrenatural do maior molestador de Israel nos anos anteriores: João Batista, o mesmo acerca de quem se diz que nunca fez nenhum sinal, mas tudo quanto disse acerca de Jesus era verdade.

Elias também era cogitado, provavelmente o mais popular entre os cogitados. Jesus seria Elias, cheio de ousadia, e com poder de enfrentar a Jezabel de Roma e dos corruptos do Templo. E as curas e milagres de Jesus deveriam ser extensão do poder de operar milagres que Elias manifestara. Entretanto, as profundas dessemelhanças em tudo, em nada importavam, nem nos modos e nem nos conteúdos.

Então aparece Jeremias. Sim! O Jeremias doído e lamentoso é apontado como candidato a estar reencarnado em Jesus. O povo sempre creu em reencarnação. Se Vox Populi fosse Vox Dei, então a reencarnação seria verdade quase absoluta entre os humanos. Entretanto, Jesus Jeremias e Jeremias Jesus são tão parecidos como personalidades quanto Chorinho e Lambada são como ritmos e estilos musicais. Jeremias? Jesus era Jeremias. Eu acho muito engraçado. Mas tinha gente sincera do povo que cria daquele jeito. Fazer o quê? O povo sente e vai... Vai sem saber nem bem o que pensa, mas vai... Então, Jesus pode ser Jeremias, por que não?

Mas havia aqueles que diziam: Pode ser qualquer um dos profetas! Ora, esses eram os que sabiam apenas que aquele homem era da mesma qualidade dos que haviam outrora vivido como profetas, acerca de quem eles ouviam e liam. Esse tipo respondia assim: Sei lá quem ele é! Só sei que é profeta.

O povo tem todas as razões que deseje ter para considerar alguém o que bem entender, mas, em geral, o povo erra numa boa, sem ser como o erro perverso dos que chamam a pessoa de diabo doido apenas porque precisam manter o poder, mesmo que saibam que daquele que eles planejam matar emane um poder que eles não podem negar. Mas a inveja e o medo cegam a mente, e o individuo pratica toda sorte de perversidade.

O povo é cheio de boas intenções em relação ao que de Deus possa vir, mas, a maioria das vezes, serve qualquer pessoa ou coisa que seja de alguma forma relacionada a algo que faça parte da crença que brota do berço dos pobres.

O interessante é que Jesus foi identificado com pessoas totalmente diferentes Dele em tudo; exceto no conteúdo da confissão da fé. O povo sabia que Jesus tinha a ver com Deus assim como os profetas tiveram.

A Voz do Povo não é a Voz de Deus; exceto quando ecoa o que de Deus vem.

Assim, na sinceridade, o povo via Deus sobre Jesus, como Deus fora sobre os profetas anteriores; ao mesmo tempo em que criam que Jesus poderia ser uma reencarnação de algum deles; ou até um profeta duplamente turbinado — tomado pelo seu próprio espírito e pelo de João Batista, morto havia pouco tempo.

Assim, o que nos salva de nós mesmos é o que não vem de nossas cogitações, mas apenas e tão somente como revelação de Deus; pois, assim, e somente assim, se tem a razão sincera para responder: “Eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus”, como Pedro, um do povo, veio a responder antes de qualquer outro discípulo.

Caio
19/09/07
Manaus
AM

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

ECLESIASTES



No livro meu livro O Enigma da Graça — os elementos da Teologia Moral de Causa e Efeito expressos pelos “amigos de Jó”, no julgamento que faziam das calamidades do patriarca ferido pela mão de Deus, são tratados por mim de maneira muito mais ligada ao dilema-horizontal da questão. .
No entanto, faz-se necessário vermos como tal maneira de enxergar a Deus e ao próximo é uma falácia, a começar pela observação da própria História. [1]
Ou seja, o universo funciona como universo e é regido pelas Leis físicas de causa e efeito. O problema é que o mesmo princípio não se aplica como uma certeza na vivência humana na História.
No universo físico todas as vezes que jogamos para o alto um objeto mais pesado que a camada de ar, ele volta e cai na Terra. Isto é absoluto. O mesmo, todavia, não se pode dizer da vida dos homens e nem de nenhuma forma de constância nas produções da História, tanto individual quanto coletiva . E essa é a razão pela qual muita gente tem dificuldade de viver crendo em Deus, pois, na prática, a experiência humana, nem sempre acontece premiando os bons, com bondade; e os perversos, com o juízo! Na Terra, é claro!
Manter a fé quando se chega a esta verdade-fato-da-vida significa dar o grande salto, fazer a grande entrega, que é quando o momento-moriá da alma humana acontece e é também quando serve-se a Deus por Deus, ou por nada!
É a impossibilidade de conciliar a idéia da existência de um ser que seja ao mesmo tempo Todo-Poderoso e Todo-Bom, o que aniquila a fé daqueles que pensam mais filosoficamente sobre a vida. Pois, de fato, pode-se crer que há Leis exatas regendo o universo físico (o que nos inspira a crer em Deus), mas a desordem e as injustiças praticadas contra, sobre ou em favor dos humanos, parecem não combinar com a existência de um Deus que seja soberano sobre as coisas visíveis e invisíveis, e que exerça Seu Todo-Poder com Toda-Bondade aqui neste planeta e durante o prazo da existência terrena de todos os humanos!

A grande questão, todavia, é a seguinte: até que ponto podemos incluir o ser humano nas fronteiras desse universo de Leis exatas?

Ora, nós, os humanos, somos filhos de dois mundos: vivemos no tempo e no espaço; no universo das Leis fixas, e, ao mesmo tempo, somos filhos da liberdade — liberdade de ser; de tentar deixar de ser; de ser contra ou a favor de nós ou de outros; de ser sem admitir que se é; de não ser para poder justificar o ser sem sentido; e, sobretudo, ser contra Deus; ou ser contra a idéia de um Deus que cria um mundo fixo (o universo e suas Leis fixas) e, um outro, feito de animais e humanos, onde a liberdade, a individualidade e a luta pela existência são regras do existir.
Para tais pessoas, o único mundo possível em harmonia é justamente aquele no qual elas dizem não acreditar que tenha existido: o Jardim do Éden — onde natureza e homens existiam em plena harmonia—, antes do tempo em aquele que era um mundo só, fosse partido em muitos pedaços, especialmente nos ambientes de nossos complexos corações.
Ora, para que o absurdo mundo atual faça algum sentido, tem que ter havido aquilo que a Bíblia chama de a Queda! Do contrário, não é possível conciliar a ordem universal com o caos da História humana, e, muito menos ainda, com um Deus que seja Todo-Poder e Toda-Bondade!
A tese de Jó era esta. Ele não entendia o que lhe estava acontecendo, mas negava-se a aceitar o pressuposto de causa e efeito a partir do qual seus amigos o julgavam. [2]
Nesse capítulo, é acerca dessa questão que desejo tratar antes de olharmos a falácia dessa forma de pensar também na perspectiva “teológica”, incluindo a da maioria dos cristãos, que pensam como os “amigos de Jó.”
Portanto, antes de falarmos sobre a “teologia” desse pensamento, quero que você saiba que essa tese não resiste a um confronto nem mesmo com as verdades da História, conforme ela se deixa “ver”.
E, neste sentido, a melhor resposta histórica que os aderentes da Teologia Moral de Causa e Efeito poderiam receber vem de um dos livros menos lidos, cridos e meditados da Bíblia: o livro de Eclesiastes de Salomão. [3]
A razão porque ele é tão pouco lido nada tem a ver com sua profundidade ou complexidade, pois, como em toda genuína sabedoria, o que é verdadeiro se faz entender com simplicidade. Portanto, não são as dificuldades de compreensão que impedem a Leitura, a aceitação e a vivência proposta por Deus em Sua Palavra no livro atribuído a Salomão.
O que dificulta é justamente o poder esmagador de sua simplicidade baseada na observação da História, tal qual ela se mostra aos olhos, sentidos e percepções humanos. E entre essas observações, aparece de modo esmagador o desmantelamento de todas as fabricações de causa e efeito criadas pelos amigos de Jó.
No Eclesiastes, a vida é como ela é: sem tentativa de abençoar a inegabilidade da Queda dos Humanos no Planeta Terra.
A outra razão da não apreciação do Eclesiastes é que ele não fala abertamente da eternidade — no máximo diz que o espírito volta a Deus, que o deu —, não fala nem do céu e nem do inferno; e seca a vida aqui, na arena das competições, dos julgamentos, dos esforços inúteis, das jactâncias idiotas, dos sucessos imerecidos, dos insucessos injustos, dos poderosos insensatos, dos sábios desprezados, dos ricos sem apetite, dos ricos estéreis, dos justos esquecidos, dos esnobes afamados, dos governadores cercados de puxa-sacos incompetentes, dos bens materiais que não promovem nem paz nem sono, das vitórias logo esquecidas, das alegrias alienantes, das tristezas que melhoram a alma, dos afazeres que nada mais são que vaidade e correr atrás do vento.
Por essa razão o livro de Eclesiastes é insuportável, ele é histórico demais e realista demais. Nele não há milagres. Seu grande milagre é o discernimento de como a vida é, sem os auto-enganos aos quais nos entregamos a fim de diminuir a nossa dor acerca dos esmagadores fatos da existência humana na Terra.
O que passo a fazer agora é uma Leitura do Eclesiastes junto com você. E por quê? Porque creio que o Eclesiastes não está na Bíblia por acaso. O que penso é que a sua compreensão é um dos mais poderosos antídotos contra a Teologia Moral de Causa e Efeito dos amigos de Jó. [4]
E mais que isto: penso que o texto de Eclesiastes é uma versão filosófica em favor de Jó e de suas percepções, sendo que o observador não é um “sofredor”, é, provavelmente, um rei existencialista e que, pela sabedoria, decidiu, ele mesmo, abrir todos os “pacotes de existências” que lhe estavam disponíveis. [5]
Ora, mesmo sabendo que a maioria das pessoas não gosta de ler os textos da Bíblia quando estão transcritos num livro, sempre erroneamente assumindo que o leram em algum dia, e, portanto, julgam que “pulando a Leitura” estão ganhando tempo, eu peço que você não faça isto. Leia o texto e compare com as notas de rodapé. E a razão é simples: em Eclesiastes, aprendemos que a Teologia Moral de Causa e Efeito é filha da insensatez daqueles que não percebem que os princípios de causalidade física do Universo não são aplicáveis aos relacionamentos humanos.
Se assim fosse, o Cosmo seria um Caos. O Cosmo, todavia, tem Ordem — pelo menos, ordem suficiente a fim de poder ser parcialmente pre-visto. A História humana é que é sua antítese. Os humanos são o caos do Cosmo e suas produções, na maioria das vezes, aguardam um julgamento longínquo e que, quase sempre, acontece depois da morte dos perversos. [6]
Uma das marcas mais fortes do ser iníquo e perverso é sua adaptabilidade e sua capacidade de driblar as calamidades. No Livro de Eclesiastes, essa tese é irrebatível. Salomão, em sua sabedoria, como que nos diz: Jó está certo. Debaixo do sol tudo é vaidade e não há sentido nas coisas. Nossa salvação está em temer a Deus e viver o melhor que nos venha, e, se possível, suportar o que não gostamos sem pensarmos que trata-se de um juízo especial, afinal, neste mundo caído quem vive para se perceber, mesmo como vaidade, já está no lucro. Isto porque, debaixo do sol, as injustiças têm seu lugar de primazia e ainda assim justiça acontece conforme a Sabedoria de Deus, mas não é uma Lei que tenha auto-aplicabilidade automática. [7]
Senão, veja:

“Vi ainda todas as opressões que se fazem debaixo do sol: vi as lágrimas dos que foram oprimidos, sem que ninguém os consolasse; vi a violência na mão dos opressores, sem que ninguém consolasse os oprimidos. ·
Pelo que tenho por mais felizes os que já morreram, mais do que os que ainda vivem; porém mais que uns e outros tenho por feliz aquele que ainda não nasceu e não viu as más obras que se fazem debaixo do sol.[8]

Então, vi que todo trabalho e toda destreza em obras provêm da inveja do homem contra o seu próximo. Também isto é vaidade e correr atrás do vento.[9]
Então, considerei outra vaidade debaixo do sol, isto é, um homem sem ninguém, não tem filho nem irmã; contudo, não cessa de trabalhar, e seus olhos não se fartam de riquezas; e não diz: Para quem trabalho eu, se nego à minha alma os bens da vida? Também isto é vaidade e enfadonho trabalho”.[10]

Então ele passa a falar daqueles que pensam que são, sem reconhecerem que maior do que eles é o trono onde se assentam e a posição circunstancial que ocupam:
“Vi todos os viventes que andam debaixo do sol com o jovem sucessor, que ficará em lugar do rei. Era sem conta todo o povo que ele dominava; tampouco os que virão depois se hão de regozijar nele. Na verdade, que também isto é vaidade e correr atrás do vento.[11]

Neste ponto a sabedoria se dirige contra aqueles que pensam que, pelo seu muito falar, serão ouvidos diante de Deus e que pensam que a sua religiosidade tem algum valor nas regiões celestes:

“Guarda o pé, quando entrares na Casa de Deus; chegar-se para ouvir é melhor do que oferecer sacrifícios de tolos, pois não sabem que fazem mal.·
Não te precipites com a tua boca, nem o teu coração se apresse a pronunciar palavra alguma diante de Deus; porque Deus está nos céus, e tu, na terra; portanto, sejam poucas as tuas palavras.[12]
Porque dos muitos trabalhos vêm os sonhos, e do muito falar, palavras néscias. Quando a Deus fizeres algum voto, não tardes em cumpri-lo; porque não se agrada de tolos. Cumpre o voto que fazes. Melhor é que não votes do que votes e não cumpras. Não consintas que a tua boca te faça culpado, nem digas diante do mensageiro de Deus que foi inadvertência; por que razão se iraria Deus por causa da tua palavra, a ponto de destruir as obras das tuas mãos? Porque, como na multidão dos sonhos há vaidade, assim também, nas muitas palavras; tu, porém, teme a Deus”. [13]

Outra vez Salomão introduz o tema das injustiças praticadas sem causa na Terra:

“Se vires em alguma província opressão de pobres e o roubo em lugar do direito e da justiça, não te maravilhes de semelhante caso; porque o que está alto tem acima de si outro mais alto que o explora, e sobre estes há ainda outros mais elevados que também exploram”.[14]

Agora ele arremete contra a impossibilidade de que haja saciedade no coração humano sem que isto seja fruto da Graça e dom de Deus:

“Quem ama o dinheiro jamais dele se farta; e quem ama a abundância nunca se farta da renda; também isto é vaidade. Onde os bens se multiplicam, também se multiplicam os que deles comem; que mais proveito, pois, têm os seus donos do que os verem com seus olhos? Doce é o sono do trabalhador, quer coma pouco, quer muito; mas a fartura do rico não o deixa dormir. [15]
Grave mal vi debaixo do sol: as riquezas que seus donos guardam para o próprio dano. E, se tais riquezas se perdem por qualquer má aventura, ao filho que gerou nada lhe fica na mão. Como saiu do ventre de sua mãe, assim nu voltará, indo-se como veio; e do seu trabalho nada poderá levar consigo. Também isto é grave mal: precisamente como veio, assim ele vai; e que proveito lhe vem de haver trabalhado para o vento? Nas trevas, comeu em todos os seus dias, com muito enfado, com enfermidades e indignação.[16]
Eis o que eu vi: boa e bela coisa é comer e beber e gozar cada um do bem de todo o seu trabalho, com que se afadigou debaixo do sol, durante os poucos dias da vida que Deus lhe deu; porque esta é a sua porção.[17]
Quanto ao homem a quem Deus conferiu riquezas e bens e lhe deu poder para deles comer, e receber a sua porção, e gozar do seu trabalho, isto é dom de Deus. Porque não se lembrará muito dos dias da sua vida, porquanto Deus lhe enche o coração de alegria.[18]
Há um mal que vi debaixo do sol e que pesa sobre os homens: o homem a quem Deus conferiu riquezas, bens e honra, e nada lhe falta de tudo quanto a sua alma deseja, mas Deus não lhe concede que disso coma; antes, o estranho o come; também isto é vaidade e grave aflição.[19]
Se alguém gerar cem filhos e viver muitos anos, até avançada idade, e se a sua alma não se fartar do bem, e além disso não tiver sepultura, digo que um aborto é mais feliz do que ele; pois debalde vem o aborto e em trevas se vai, e de trevas se cobre o seu nome; não viu o sol, nada conhece. Todavia, tem mais descanso do que o outro, ainda que aquele vivesse duas vezes mil anos, mas não gozasse o bem. Porventura, não vão todos para o mesmo lugar?[20]

Então surge o tema da animalidade humana e das causalidades injustas; ou seja, Salomão fala do Darwinismo presente na bestialidade humana, expresso, sobretudo, pelas desigualdades e pela banalidade com a que a existência é vivida:

“Todo trabalho do homem é para a sua boca; e, contudo, nunca se satisfaz o seu apetite![21]
Pois que vantagem tem o sábio sobre o tolo? Ou o pobre que sabe andar perante os vivos? Melhor é a vista dos olhos do que o andar ocioso da cobiça; também isto é vaidade e correr atrás do vento.[22]
A tudo quanto há de vir já se lhe deu o nome, e sabe-se o que é o homem, e que não pode contender com quem é mais forte do que ele”.[23]

Salomão agora, depois de experimentar de tudo um pouco, chega à conclusão que ninguém pode determinar o que é bom ou mal para um homem. Isto cada um terá que aprender com Deus e com a vida, pois, Deus não deu a ninguém tal receita de felicidade:

“É certo que há muitas coisas que só aumentam a vaidade, mas que aproveita isto ao homem? Pois quem sabe o que é bom para o homem durante os poucos dias da sua vida de vaidade, os quais gasta como sombra? Quem pode declarar ao homem o que será depois dele debaixo do sol? [24]

Subitamente a reflexão se dirige à casa de Jó. Ele é, sem dúvida, um dos melhores exemplos do que abaixo se descreve:

“Melhor é a boa fama do que o ungüento precioso, e o dia da morte, melhor do que o dia do nascimento. Melhor é ir a casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, pois naquela se vê o fim de todos os homens; e os vivos que o tomem em consideração. Melhor é a mágoa do que o riso, porque com a tristeza do rosto se faz melhor o coração. O coração dos sábios está na casa do luto, mas o dos insensatos, na casa da alegria. Melhor é ouvir a repreensão do sábio do que ouvir a canção do insensato. Pois, qual o crepitar dos espinhos debaixo de uma panela, tal é a risada do insensato; também isto é vaidade.[25]
Verdadeiramente, a opressão faz endoidecer até o sábio, e o suborno corrompe o coração.[26]
Atenta para as obras de Deus, pois quem poderá endireitar o que ele torceu? [27]
No dia da prosperidade, goza do bem; mas, no dia da adversidade, considera em que Deus fez tanto este como aquele, para que o homem nada descubra do que há de vir depois dele.[28]
Tudo isto vi nos dias da minha vaidade: há justo que perece na sua justiça, e há perverso que prolonga os seus dias na sua perversidade.”[29]

Então, diz Salomão, já que a vida é assim, o que se deve buscar é o melhor dela em cada circunstância, evitando os exageros, pois, nos exageros, reside o mal:

“Não sejas demasiadamente justo, nem exageradamente sábio; por que te destruirias a ti mesmo? Não sejas demasiadamente perverso, nem sejas louco; por que morrerias fora do teu tempo? Bom é que retenhas isto e também daquilo não retires a mão; pois quem teme a Deus de tudo isto sai ileso.[30]
Não há homem justo sobre a terra que faça o bem e que não peque.[31]
Não apliques o coração a todas as palavras que se dizem, para que não venhas a ouvir o teu servo a amaldiçoar-te, pois tu sabes que muitas vezes tu mesmo tens amaldiçoado a outros”.[32]

Ora, as conclusões às quais somos induzidos pela sabedoria-histórica de Salomão não nos agradam. Gostaríamos muito de obter receitas e de podermos sair de sua presença com certezas que nos facultassem o poder do juízo. Mas é justamente o contrário: a única certeza que se pode obter na historia é sobre sua injustiça e seu caos, aos nossos olhos; e, do ponto de vista da Soberania de Deus, sua total liberdade para fazer o homem caminhar sobre o chão do Mistério e da indisponibilidade de certezas.
O que passar disto é mágica e é teologia dos amigos de Jó. Todavia, aquilo que para uns é apavorante, para outros é redentor; pois se uns se agitam em desespero ante a impossibilidade de viverem cheios de certeza; outros, se alegram pela possibilidade de saírem sem saber para onde vão, crendo, ao contrário, que o “justo vive pela fé”.

“Tudo isto experimentei pela sabedoria; e disse: tornar-me-ei sábio, mas a sabedoria estava longe de mim. O que está longe e mui profundo, quem o achará? Apliquei-me a conhecer, e a investigar, e a buscar a sabedoria e meu juízo de tudo, e a conhecer que a perversidade é insensatez e a insensatez, loucura. [33]
Eis o que achei, diz o Pregador, conferindo uma coisa com outra, para a respeito delas formar o meu juízo, juízo que ainda procuro e não o achei: eis o que tão-somente achei: que Deus fez o homem reto, mas ele se meteu em muitas astúcias[34].
Quem guarda o mandamento não experimenta nenhum mal[35]; e o coração do sábio conhece o tempo e o modo. Porque para todo propósito há tempo e modo; porquanto é grande o mal que pesa sobre o homem. Porque este não sabe o que há de suceder; e, como há de ser, ninguém há que lho declare.
Não há nenhum homem que tenha domínio sobre o vento para o reter; nem tampouco tem ele poder sobre o dia da morte; nem há tréguas nesta peleja; nem tampouco a perversidade livrará aquele que a ela se entrega”.[36]

Desse ponto em diante Salomão introduz o mais importante de todos os conceitos contrários a uma Teologia Moral de Causa e Efeito, o tema do juízo. Ou seja, ele diz que o juízo de Deus nem sempre começa na Terra. Na maioria das vezes, não é aqui que ele inicia. Portanto, muitos interpretam o silêncio divino como aprovação, e, neste aspecto, as armadilhas de auto-engano são inúmeras:

“Tudo isto vi quando me apliquei a toda obra que se faz debaixo do sol; há tempo em que um homem tem domínio sobre outro homem, para arruiná-lo.[37]
Assim também vi os perversos receberem sepultura e entrarem no repouso, ao passo que os que freqüentavam o lugar santo foram esquecidos na cidade onde fizeram o bem; também isto é vaidade. [38]
Visto como se não executa logo a sentença sobre a má obra, o coração dos filhos dos homens está inteiramente disposto a praticar o mal.[39] Ainda que o pecador faça o mal cem vezes, e os dias se lhe prolonguem, eu sei com certeza que bem sucede aos que temem a Deus. Mas o perverso não irá bem, nem prolongará os seus dias; será como a sombra, visto que não teme diante de Deus.[40]
Ainda há outra vaidade sobre a terra: justos a quem sucede segundo as obras dos perversos, e perversos a quem sucede segundo as obras dos justos. Digo que também isto é vaidade. Então, exaltei eu a alegria, porquanto para o homem nenhuma coisa há melhor debaixo do sol do que comer, beber e alegrar-se; pois isso o acompanhará no seu trabalho nos dias da vida que Deus lhe dá debaixo do sol.[41]
Aplicando-me a conhecer a sabedoria e a ver o trabalho que há sobre a terra - pois nem de dia nem de noite vê o homem sono nos seus olhos -, então, contemplei toda a obra de Deus e vi que o homem não pode compreender a obra que se faz debaixo do sol; por mais que trabalhe o homem para a descobrir, não a entenderá; e, ainda que diga o sábio que a virá a conhecer, nem por isso a poderá achar.[42]
Deveras me apliquei a todas estas coisas para claramente entender tudo isto: que os justos, e os sábios, e os seus feitos estão nas mãos de Deus; e, se é amor ou se é ódio que está à sua espera, não o sabe o homem. Tudo lhe está oculto no futuro.
Tudo sucede igualmente a todos: o mesmo sucede ao justo e ao perverso; ao bom, ao puro e ao impuro; tanto ao que sacrifica como ao que não sacrifica; ao bom como ao pecador; ao que jura como ao que teme o juramento.
Este é o mal que há em tudo quanto se faz debaixo do sol: a todos sucede o mesmo; também o coração dos homens está cheio de maldade, nele há desvarios enquanto vivem; depois, rumo aos mortos. Para aquele que está entre os vivos há esperança; porque mais vale um cão vivo do que um leão morto.[43]

Agora, Salomão diz o que fazer num mundo caído, injusto e levado ao caos pela inveja, pela astúcia e pela maldade dos corações humanos:

“Vai, pois, come com alegria o teu pão e bebe gostosamente o teu vinho, pois Deus já de antemão se agrada das tuas obras.[44] Em todo tempo sejam alvas as tuas vestes, e jamais falte o óleo sobre a tua cabeça. Goza a vida com a mulher que amas, todos os dias de tua vida fugaz, os quais Deus te deu debaixo do sol; porque esta é a tua porção nesta vida pelo trabalho com que te afadigaste debaixo do sol. Tudo quanto te vier à mão para fazer, fazei-o conforme as tuas forças, porque no além, para onde tu vais, não há obra, nem projetos, nem conhecimento, nem sabedoria alguma”.[45]

Assim, ele retoma o tema das não causalidades imediatas afirmando que nem a inteligência, a competência e as habilidades naturais garantem o sucesso de ninguém nesta vida; e, assim entendendo, ele diz:

“Vi ainda debaixo do sol que não é dos ligeiros o prêmio, nem dos valentes, a vitória, nem tampouco dos sábios, o pão, nem ainda dos prudentes, a riqueza, nem dos inteligentes, o favor; porém tudo depende do tempo e do acaso. Pois o homem não sabe a sua hora. Como os peixes que se apanham com a rede traiçoeira e como os passarinhos que se prendem com o laço, assim se enredam também os filhos dos homens no tempo da calamidade, quando cai de repente sobre eles.”[46]

A seguir Salomão mostra outra não causalidade, que é quando a benção trazida por alguém não se transforma em gratidão no coração dos agraciados:

“Também vi este exemplo de sabedoria debaixo do sol, que foi para mim grande:
Houve uma pequena cidade em que havia poucos homens; veio contra ela um grande rei, sitiou-a e levantou contra ela grandes baluartes. Encontrou-se nela um homem pobre, porém sábio, que a livrou pela sua sabedoria; contudo, ninguém se lembrou mais daquele pobre.
Então, disse eu: melhor é a sabedoria do que a força, ainda que a sabedoria do pobre é desprezada, e as suas palavras não são ouvidas. As palavras dos sábios, ouvidas em silêncio, valem mais do que os gritos de quem governa entre tolos. Melhor é a sabedoria do que as armas de guerra, mas um só pecador destrói muitas coisas boas”.

Daqui para frente ele mostra como as relações de causa e efeito neste mundo de tramas políticas e de interesses muitas vezes escusos, não têm nada a ver com bondade, justiça e verdade, mas com capricho, vaidade, esperteza e, sobretudo, com a burrice dos que lideram, os quais, pela sua própria fome de poder, alimentam-se da mediocridade dos que os servem:
“Levantando-se contra ti a indignação do governador, não deixes o teu lugar, porque o ânimo sereno acalma grandes ofensores.
Ainda há um mal que vi debaixo do sol, erro que procede do governador: o tolo posto em grandes alturas, mas os ricos assentados em lugar baixo. Vi servos a cavalo e príncipes andando a pé como servos sobre a terra.”[47]

O que vem a seguir tem a ver apenas com o mundo das forças naturais, com as naturezas animais e com estatísticas e probabilidades, pois, assim como brincar com fogo traz o risco do incêndio, assim também, dar poder ao imaturo pode gerar calamidades:
“Quem abre uma cova nela cairá, e quem rompe um muro, mordê-lo-á uma cobra. Quem arranca pedras será maltratado por elas, e o que racha lenha expõe-se ao perigo. Se o ferro está embotado, e não se lhe afia o corte, é preciso redobrar a força; mas a sabedoria resolve com bom êxito. Se a cobra morder antes de estar encantada, não há vantagem no encantador.[48]
Ai de ti, ó terra cujo rei é criança e cujos príncipes se banqueteiam já de manhã. Ditosa, tu, ó terra cujo rei é filho de nobres e cujos príncipes se sentam à mesa a seu tempo para refazerem as forças e não para bebedice.[49]

Assim é que não precisamos buscar fora da Bíblia a sabedoria histórica que desmantele a presunção dos amigos de Jó e de suas falsas Teologias. Quem resistir à esmagadora demonstração deste fato após a Leitura desta sabedoria-vista-e-revelada, não pode mais dizer que ainda crê na Graça. E por quê? Ora, porque se o que vale é o que existe neste mundo de naturezas animais, então, que se viva conforme os bichos da floresta. Todavia, não se terá, daí para frente, mais nenhuma outra esperança nesta vida que não seja conquistada pelo nosso próprio esforço, poder e arrogância.
Aquilo, que hoje a maioria dos cristãos chama de sua “teologia” ou de sua “fé”, não é nada além da mesma consciência que possuía os amigos de Jó.
A decisão que você tem que tomar é simples: ou você vive da Graça como Jó e se torna filho da Cruz de Jesus; ou você integra a membresia da numerosíssima multidão de cristãos que confessam a Graça com os lábios, mas continuam a viver oprimidos pelos amigos de Jó ou, então, integram o seu clube, e passam, presunçosamente, a existir como os juízes da vida.[50]
Eu, toda-via, não tenho nenhuma barganha a oferecer!





[1] Devo reconhecer que este TEXTO pode ser chato, cansativo e que ele quebra um pouco o fluxo do pensar abstrato. Mas não capitularei e insistirei em mantê-lo aqui, pois, aqui é o seu lugar. Portanto, paz-ciência! Leia-o com carinho e você verá como, apesar de se diferenciar do fluxo do todo do livro, a percepção que este capítulo nos traz é fundamental. Não capitule. Leia!
[2] A certeza da soberania de Deus experimentada como dor e como acusação, simultaneamente, pode fazer com que surja no coração uma consciência amargurada do poder de Deus.

[3] E aqui poupo você das estéreis e infindáveis discussões sobre a “autoria” do livro e dos demais tecnicismos que nunca vi terem sido úteis para alentar ou consolar qualquer coração nesta Terra de agonias.
[4] A melhor “Resposta a Jó” não vem de C. Jung— que escreveu um livro com essa pretensão—, mas de Salomão. E a razão é que, no Eclesiastes, Salomão afirma a “consciência de Jó” sobre a existência e relativiza todas as “certezas” de causa e efeito dos “amigos de Jó”. Em O Enigma da Graça esse assunto é aprofundado.
[5] Eclesiastes 2: 1-11
[6] Hoje esta afirmação não necessita de amparo apologético. Basta assistir à quantidade enorme de documentários sobre a relação predatória que a Civilização Humana vem mantendo com o todo da criação no Planeta, que ver-se-á a direção auto-destrutiva na qual a humanidade caminha, movida cegamente pelo deus deste século, chamado de O Imediato!
[7] Como já disse antes, a Leitura de O Enigma da Graça é essencial para sua melhor compreensão deste texto, visto que, é no comentário de Jó onde essa tese abunda de modo inequívoco.
[8] Salomão diz: “Quem vive na Terra deve saber que aqui a felicidade não é o resultado natural de existir. Quem tem essa expectativa, melhor lhe seria não ter jamais existido”.
[9] Então desmistifica as motivações do sucesso e da destreza e diz que ambos são fruto da inveja.
[10] Na Terra há os que ajuntam o que não podem levar e guardam aquilo do que não usufruem. Onde está o princípio da causalidade? Por que tais bens caem em tais mãos?
[11] Esses sucessos nada têm a ver com a pessoa, mas com os benefícios que ela pode trazer. Quando estão “por cima”, multidões de aduladores; quando lhes “passa o tempo”, não há mais memória deles. Eles eram “filhos” de um trono, mas não carregavam o trono em seus seres!
[12] Pois que explicação teria alguém para dar a Deus?
[13] A causalidade que a Bíblia admite é aquela que um dia virá, diante de Deus e não dos homens, quando os segredos dos corações serão revelados. Fica, todavia, a advertência no sentido de que não se crie um critério de juízo contra ninguém, pois, ao final, ele será usado contra nós.
[14] Poucas coisas são tão esmagadoramente realistas quanto esta declaração, e, por ela, faz-se calar toda presunção de juízo dos “amigos de Jó”.
[15] Quem possui não tem paz para usufruir; e quem não possui goza da paz de quem, tendo bens, não descansa, todavia, em seu coração.
[16] Aqui Salomão mostra o pecado dos amigos de Jó. Pois não é preciso saber que alguém foi vitimado pelo Diabo para se entender que a vida “é assim mesmo”.
[17] Ou seja: o que traz felicidade na vida é viver!
[18] Poder realizar e usufruir é pura Graça, é dom de Deus e não vem naturalmente no pacote dos sucessos.
[19] Aqui acontece o oposto. Tem-se a riqueza como dom, mas não se tem o prazer de seu uso-fruto!
[20] Aqui Salomão ridiculariza a existência longeva, mas que nunca viveu. É o ser que se “protegeu” tanto que acabou se “protegendo” da própria vida.
[21] Com essa frase ele afirma a basicalidade de todos os esforços humanos e sua incapacidade de alguém se satisfazer de si-para-si-mesmo.
[22] Para Salomão melhor do que ter um cobiçoso projeto na vida era ter uma sábia visão da vida.
[23] Neste ponto, a animalidade dos humanos é afirmada. É a sobrevivência dos mais aptos e fortes.
[24] Isto deveria nos fazer silenciar constantemente nas nossas tentativas de saber o que é bom para o outro.
[25] Ele começa com a boa fama e prossegue para dizer o seguinte: Num mundo caído e caótico como o nosso, é das nossas maiores dores que nasce o melhor de nós. O sábio, portanto, não teme a dor. Ele sabe que a alegria não é reflexiva. Portanto, ele não tem que procurar a dor e não pode fugir dela. Se os amigos de Jó soubessem disso teriam visitado a casa do luto a fim de aprenderem a sabedoria, e não com a pretensão de ensinar o ser dolorido.
[26] Aqui, mais do que em qualquer outro lugar vemos o nível de desespero ao qual os “amigos de Jó” o levaram. A loucura de Jó, sua permissão para ofender, começou quando a opressão dos amigos lhe roubou a sensatez.
[27] Ou seja: Curva-te ante a soberania de Deus!
[28] Se os “amigos de Jó” não o tivessem visitado, era aqui nesse lugar-existencial que ele ficaria, pois, as palavras de Salomão ecoam a atitude de Jó ante sua própria calamidade.
[29] Esta é a síntese da defesa de Jó perante os seus amigos.
[30] Salomão diz: Já que a vida não é justa, então, procura o equilíbrio!
[31] Aqui terminam todas as auto-santificações e auto-justificações. Este é o equivalente de Romanos 3:23 no livro do Eclesiastes.
[32] Significando que não há quem não peque com a língua e seus julgamentos.
[33] Ou seja: o melhor e o máximo que uma investigação humana dos fatos da vida pode nos levar é à certeza da inescrutabilidade da própria vida. A sabedoria esbarra no Mistério!
[34] Aparece aqui uma das mais importantes declarações sobre a história dos humanos e seu caos interior e comunitário: o homem que vive na Terra não é mais o homem criado perfeito. Ele é filho das “astúcias”; e sua sabedoria acaba se tornando o seu próprio laço. Encerra-se aqui a possibilidade de que o homem agrade a Deus de si e por si mesmo. A humanidade é caída.
[35] O conceito de “mal” na Bíblia é, muitas vezes, completamente diferente do nosso. Prova disto é Isaías 57:1-2b, onde se diz que o justo pode morrer antes que venha o mal, e, assim, “entrar na paz”. Ora, do ponto de vista da Palavra de Deus, a morte não é um mal para quem vive sob a Graça da justiça de Deus. O “mal” pode ser a forma de existir, não a morte.
[36] Os fatos da vida estão para além de nós. O mandamento nos livra do mal, principalmente de praticá-lo contra o próximo, mas não dá poder sobre os ventos, as calamidades ou sobre a morte.
[37] E quem não vê isto todos os dias? Há homens com poder de arruinar a existência de seu próximo, e, indiscriminadamente, o fazem.
[38] Em nome de quem estão as avenidas e ruas das cidades? Quem são aqueles que em geral recebem as “honras” da história?
[39] Aqui se nega completamente a Teologia Moral de Causa e Efeito. O juízo divino tarda na história. E, muitas vezes, não alcança o perverso neste lado da vida, mas, apenas, na eternidade. Daí os perversos sentirem-se seguros para oprimir o próximo. E mais que isto, a Teologia Moral de Causa e Efeito é o que estimula o perverso no seu caminho, pois, como o “mal” nem sempre o alcança—perturbando, eventualmente um ou outro—, a maioria se julga boa, visto que se auto-engana crendo – os perversos - que se fossem maus, o mal os alcançaria. E, assim, as consciências se anestesiam. A Teologia Moral de Causa e Efeito é um dos mais poderosos anestesiadores de almas e cauterizadores de consciências!
[40] Esse “Ainda que…” é fundamental. Ou seja: Salomão nos estimula a temer a Deus não em razão de nenhuma causalidade imediata na Terra, mas porque, ao final, "bem sucede” aos que o temem. Isto porque o bem nem sempre corresponde ao sucesso, e o mal nem sempre ao insucesso imediato. Mas quem não deseja o “mal”, que viva no Temor do Senhor, pois, ele nos livra do “mal”, mesmo que muitas vezes nos permita passar por ele. O “mal” não é o que se experimenta, é o que fica ou surge em nós, muitas vezes, independentemente de ter ou não havido experiência externa dele.
[41] Já que a injustiça está instituída na Terra, então, a receita é: viva o que melhor realizar o bem de Deus em sua vida e não transfira essa responsabilidade para ninguém.
[42] Outra vez a sabedoria esbarra num mistério maior: o coração humano e, sobretudo, os desígnios de Deus.
[43] Que resposta melhor se poderia dar aos “amigos de Jó”?
[44] Aqui, Salomão enuncia um princípio que só faz bem aos puros de coração, aqueles que não têm medo nem de Deus e nem da vida; afinal, todas as coisas são puras e boas para os puros.
[45] Não há nenhuma alegoria nesta passagem. O Eclesiastes não é um livro de “alegorias”. O que aqui se diz é simples: neste mundo caído, aprenda a tirar prazer da própria vida e daquilo que é essencial nela, que é: comer e beber gostosamente, vestir e cheirar bem, gozar a vida com a mulher que se ama e em quem se tem prazer; e, além disso, faça de sua profissão ou trabalho um prazer; pois, não há na Terra nada para além dessas alegrias no horizonte cotidiano. É nessa simplicidade que se pode encontrar alegria e, de acordo com Jesus, também aquilo que num mundo material caído é de importância até mesmo escatológica. Isto porque se essas pequenas coisas são as que dão prazer na vida, são elas também parte do critério final com o qual todos, um dia, serão julgados (Mt 25: 31-46).
[46] As alusões de Salomão ao “acaso”, muitas vezes são interpretadas como uma visão materialista da vida. Eu vejo o contrário. O que ele diz é que já que ninguém conhece os desígnios de Deus, melhor do que tentar entender e julgar o próximo, é pensar no “acaso”. Se os amigos de Jó tivessem tido essa “condescendência” para com ele—mesmo que falando em acaso—estariam muito bem posicionados. Nesse sentido a certeza do “acaso” é a única saída para quem não sabe o que “está por trás” das coisas. Ora, o “a-caso” é aquilo que acontece “sem causa”. Portanto, em um mundo caído, é aquilo que acontece sem explicação e, por essa razão, sem a possibilidade do “juízo”.
[47] Quem nunca viu os “caprichos políticos” fazerem grandes inversões de papéis na história?
[48] Toda essa seqüência de eventos e situações conclui com o elemento da “probabilidade”. Ou seja: “Quem brinca com fogo pode se queimar”. E, assim, cada um deve entender os riscos de suas próprias escolhas e as conseqüências possíveis de seus atos, e viver com as conseqüências históricas de sua eventual periculosidade, sem enviar a conta para a Corte Celestial ou para as forças do Abismo.
[49] Os exemplos são de linearidade lógica; ou seja: de governantes indolentes e embriagados não se deve nunca esperar prosperidade e diligência, e, deve-se saber que os resultados são sempre desastrosos.
[50] Como você já deve ter percebido muitos dos temas deste livro aparecem sintetizados pelo fato de terem sido muito abordados em O Enigma da Graça.



Caio

2002 - Copacabana

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

O QUE É SER SANTO?

(Trecho do livro Oração para Viver e Morrer, páginas 38 a 41, por CAIO FÁBIO, 1994; digitação de Dora Ramos)Vejamos o que Jesus estava nos ensinando quando relacionou o tema da santidade à Palavra e aquilo que Deus faz a nosso favor.1. O tema da Santidade conforme relacionado à Palavra de Deus (João 17: 17). Para Jesus, a Palavra de Deus era o que poderia nos santificar. E para Ele não se tratava de uma definição de santificação esotérica e mágica. Ele não tinha em mente nenhum tipo de exposição mágica da alma humana à Palavra ao fim da qual a pessoa estivesse mais santa. Na sua mente não passavam aquelas "percepções" de que a mera exposição à Palavra santificava o ouvinte. Para Jesus, ser santificado tinha, na verdade, uma profunda e indissolúvel relação com a assimilação dos conceitos da verdade de Deus, mediante um aprendizado não apenas teórico e teológico da letra da Palavra, mas mediante a vivência da presença de Deus na história em conformidade com o padrão da Palavra de Deus feita verdade no coração.Tal percepção da relação da Palavra com a vida deve nos comprometer com a confissão de que Deus é santo e com a vivência da santidade. Além disso, ela nos induz também a perguntar por dois conceitos básicos encontrados na prática de Jesus. O primeiro tem a ver com o conceito de Palavra de Deus no entendimento de Jesus. E o segundo é aquele relacionado a como Jesus, à luz de Sua interpretação da Palavra, entendia o tema da santidade.Comecemos com o que a Palavra significava para Jesus e o que Ele chamava de Palavra de Deus. Inicialmente devemos dizer que Jesus olhava para a totalidade do Velho Testamento como Palavra de Deus (Jo. 5:39). Para Ele a questão nunca esteve entre o que era ou não Palavra de Deus no Velho Testamento, mas, apenas, em como entender, interpretar e aplicar essa Palavra ao contexto da vida humana. Ora, neste sentido Mateus 22: 23-46 é o melhor exemplo disso. Nos três episódios narrados naquele texto, a grande questão não é o que é Palavra de Deus, mas como entendê-la e aplicá-la (Mt. 23:2,3). É por esta razão que nós não vemos na prática de Jesus querelas teológicas, na perspectiva seletiva a respeito do que deveria ser retirado do Velho Testamento para ser abandonado ou reforçado na prática dos seus discípulos (Lc. 24:45). Pelo contrário, para Ele, o Velho Testamento dava uma base e finalidade histórica (Lc. 4:16-19). Sua missão tinha suas raízes mais profundas nos sonhos dos profetas (Lc. 24.27). Seus sofrimentos e glórias já tinham sido vistos e saudados desde o início da caminhada histórica do povo de Israel (Lc. 22.36,37). Ele próprio tinha sido alegria existencial e a inspiração dos patriarcas e profetas (Jo. 8.56). Sua mensagem não era nova, mas o aprofundamento da revelação já existente (Mt. 22:34¬40; Lc. 10.25-28). Sua expectativa de aceitação e rejeição do seu ministério se baseava naquilo que a Palavra lhe autorizava a esperar (Mt. 13.14,15). A própria maneira sombria pela qual ele anuncia sua morte se fundamenta numa interpretação teológico-ideológico da freqüente e histórica atitude do povo de Israel, conforme descrita nas Escrituras (Lc 13.31-35). Para Ele, o Gênesis de 6 a 11 era digno de confiança histórica (Mt. 24.38-39). Além disso, o modo pelo qual ele interpretava a saúde relacional do homem e da mulher se fundamentava na originalidade do plano da criação conforme revelado no Gênesis (Mt. 19.4-6). A conexão entre pecado e queda, bem como entre ideal e realidade era para ele extraída da Escritura (Mt. 19:7-9).Até mesmo textos do V.T. de ares místicos foram encarados por ele como absolutamente simples e reveladores do modo pelo qual Deus age na história (Mt. 16.1-4). Assim, tudo que Jesus fazia tinha seu fundamento no Velho Testamento. Seu território ministerial (Mt. 4.12-17), o exercício das curas (Mt. 8.16-17), a pregação (Lc. 4.16-19), o ensino (Mt. 6-7) e a atitude de discrição e singela misericórdia (Mt. 12.15-21) estavam fundamentados no Velho Testamento. Seu sermão do Monte era, em síntese, a pregação do sonho dos profetas. De fato, o Sermão do Monte é a condensação das utopias dos profetas. Aquilo que eles não tinham conseguido chamar de História, Jesus chamou Vida. Concluindo, nós poderíamos dizer que, literalmente, toda a Escritura tem em Jesus sua afirmação: o Pentateuco (Mt. 22.23-29), os livros históricos (Mt. 12.1-7), os poéticos (SI. 118.26;22.8), as sabedorias (Mt. 12.42) e os profetas (Mt. 26.31). O próprio fato das genealogias de Jesus estarem incluídas nos evangelhos com todas as ambigüidades “morais” às quais elas estavam sujeitas, pois Jesus descende de gentios (Mt. 1.3,5), adúlteros (Mt. 1.3-6), prostituta (Mt. 1.6), homicidas (Mt. 1.10) e ancestrais cheios de sincretismos (Mt. 1.7-10), nos mostra que, propositalmente, Ele quer estar ligado à História do Velho Testamento (Jo. 5.39).Isto posto, devemos agora relacionar a Palavra com o fato de Jesus ter dito que deveríamos ser santificados por ela. Ora, nesse caso nossa visão do escopo e da profundidade da santificação muda radicalmente. Ser santo é buscar ser essencialmente humano, ser parte da história porém vivendo a presença de Deus no mundo (Lc. 7.39). Ser santo tem relação com a busca de uma sociedade sem desigualdades e onde os mais fracos jamais sejam despojados (Mt. 23.14). Ser santo é viver a alegria do conhecimento de Deus com oração e fé e é sofrer as angústias da história como resultado de nossos vínculos com um padrão que o mundo não conhece (Mt. 11.25-27; 5.11-12). Ser santo é ser separado, não dos pagãos; como Israel equivocadamente tentou, mas é viver a diferença radical dos valores do Reino em meio às sociedades pagãs (Mt. 5.43-48). Ser santo é ter na paixão dos profetas a motivação existencial para o nosso enfrentamento histórico do mal (Lc. 13.33). Ser santo é, mesmo em dia de sábado, trabalhar a favor da santidade de vida (Lc. 14. 1-6). Ser santo é colocar o valor da vida acima do valor das coisas, mesmo aquelas mais "sagradas" (Mt. 23.23). Ser santo é entender que o altar diante do qual Deus nos quer ver prostrados não é apenas o altar do templo, mas também os altares ensangüentados dos corpos dos nossos irmãos de história e que estão caídos nas esquinas da vida (Lc. 10.25-37). Ser santo é viver a misericórdia no agitado ambiente secular, ao invés de viver a quietude alienada do ambiente religioso que não tem janelas para a história da dor humana (Mt. 9.9-13). Ser santo é acreditar que a santidade não se polui quando toca com amor, aquilo que é sujo (Mt. 8.1-4; Mc. 7.1-23). Ser santo é não temer ser mal interpretado pela mente daqueles que estão sujos de pretensa santidade.(Mc.7.5;Lc.7.39).Para Jesus ser santo é ser verdadeiro para com a nossa condição humana: é ter a coragem de chorar em público (Jo. 11.35), de admitir perdas e saudade (Jo. 11.36), de gritar de dor (Mt. 27.50), de confessar depressão (Mt. 26.38), de pedir ajuda emocional (Mc. 27.50), de se confessar cansado (Jo. 4.6), de dizer tenho sede (Jo. 19.28), de confessar dificuldades familiares (Mc. 3.21;Jo. 7.1-9), de admitir que a privacidade é um direito e uma necessidade de sobrevivência (Mc. 6.30-32,45,46). Ser santo é admitir que o amor pode ser exercido na perspectiva da disciplina física (Mc. 11.15-19) e que o "desabafo" é um sadio escape quando se está farto de estupidez (Lc. 11.31-32). Ser santo é continuar sendo de Deus mesmo em meio ao mais profundo e inexplicável silêncio divino (Mt. 27.46).Desse modo, não santificamos a Deus quando falamos o seu nome enquanto furtamo-nos à verdade e praticamos todas aquelas coisas que a Palavra de Deus decreta como abominações, ainda que disfarçados pela nossa pseudo-moralidade. Também não santificamos a Deus com a nossa teologia reducionista e domesticadora da divindade, que pretende reduzi-lo a dogmas, ritos, liturgias e espaços. Também não santificamos a Deus com a nossa noção de sermos secretários da divindade, achando que sabemos tudo sobre Ele, achando que discernimos toda a Sua vontade, como se tivéssemos todas As manhãs uma entrevista marcada com Ele, na qual nos mostrasse detalhadamente todos os caminhos da vida. Blasfema contra Deus quem não pode dizer como Paulo em Romanos 11:33-36, que ninguém jamais conheceu ou penetrou na totalidade dos seus caminhos. Blasfema contra Deus quem não se abriu para o ministério de Deus. Não santificamos a Deus quando todo o nosso interesse em relação a Ele é sermos "ajudados". Ofendemos a Deus não somente pela negação do Seu poder, mas também pela súplica egocêntrica. Não se santifica a Deus quando se estabelece um lugar para ele morar, caindo nas teologias pagãs do "lugar santo". Ora, lugares só são santos quando santificados pela presença de homens santos que cu1tuam ao Deus Santo. Não se santifica o nome de Deus, quando se viola a sua imagem e semelhança nos seres humanos que nos cercam. Não se santifica a Deus, onde os pequenos são apenas suportados e os grandes são preferidos. Não se santifica a Deus nas nossas ruas cheias de meninos nus e crus e, que perambulam como cães virando latas de lixo. Não se santifica a Deus quando a Igreja se toma um "bastião" do poder religioso, capaz de favorecer influências políticas mundanas e iníquas. Não se santifica a Deus quando nossa esposa não é santificada pelo nosso convívio e os nossos filhos e amigos não provam o bem fazejo resultado da nossa ligação com Deus.2. A obra redentora de Jesus conforme relacionada ao tema da santidade: "E a favor deles eu me santifico a mim mesmo..." (v.19) A segunda idéia à qual o tema do Pai Santo e da santidade está relacionada em João 17 é a obra salvífica de Jesus. Isso porque a santificação que o Pai santo pede dos Seus filhos só pode ser vivida em Cristo. É por isso que Jesus, conquanto nos desafie concretamente à vivência da santidade, nos faz provisão espiritual para que tal santificação seja uma possibilidade. Sem tal provisão espiritual a vida cristã é simplesmente impossível. Talvez essa seja justamente a nossa principal falha histórica: tentar viver a santidade para a qual somos chamados, por nossa própria conta e meios. Talvez o mais terrível exemplo disso na atualidade esteja exatamente demonstrado na queda dramática e escandalosa de pregadores, cujos projetos teológicos e pessoais pregam comportamentos de santidade homocentrica. Ora, a única diferença entre legalismo e santidade é que o primeiro é esforço humano e o segundo é obra do Espírito.Por que estou dizendo isso? Simplesmente para mostrar o que Jesus dissera quando afirmou que a "favor dos discípulos Ele se santificava a si mesmo", era muito mais do que poesia sacerdotal. De fato, tratava-se da mais fundamental afirmação de segurança espiritual que a Palavra de Deus nos oferece. É sabido por todos nós, que Jesus Cristo é a única provisão de Deus para a salvação humana. E na minha maneira de ver, salvação e santificação andam extremamente ligadas. Para entendermos o tema da santificação, precisamos entender primeiro o tema da salvação e aquilo a que ela está ligada.Ora, Deus está redimindo hoje o espírito humano de modo forense e judicial, por causa da obra de Jesus na cruz. No entanto, tal salvação também traz consigo o anúncio das boas-novas de um processo redentivo, multidimensional, que Deus continua a realizar, atingindo variados segmentos da nossa própria vida. É isto que Paulo diz num texto que tem criado problemas na mente de muitos irmãos: "... desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor, porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar segundo a sua vontade" (Fp. 2.13). O fato de a salvação precisar ser desenvolvida, não significa que ela tem de ser conquistada. Nós só desenvolvemos aquilo que temos, e nós temos a salvação, definitivamente, pela fé na Graça de Cristo. Tal salvação, precisa apenas expandir-se, corporificar-se e multidimensionar-se na existência humana. É também por isto que Paulo continua apresentando alguns exemplos básicos de como fazer a salvação “crescer”: "sem murmurações nem contendas". Ora, isto tem a ver com a nossa interioridade curada e com as relações que precisam ser reconciliadas para que, na História, nos tornemos “irrepreensíveis e sinceros filhos de Deus, e inculpáveis no meio de uma geração pervertida e corrupta”.A salvação judicial e forense, por meio da fé em Jesus, deve desembocar num processo de humanização, tendo Jesus como protótipo, conforme diz Romanos 8.29 "Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes a imagem de seu filho, a fim de que Ele seja o primogênito entre muitos irmãos". A salvação que se recebe pela fé, desse momento em diante, entra na fase de desenvoltura dentro de cada pessoa para quem Jesus é o Salvador, o projeto, o protótipo, a referência e o Mestre. Isto porque o plano de Deus é que esta salvação se multidimensione em cada um de nós, de modo a caminhar na direção de tornar cada pessoa "conforme a imagem de seu Filho, para que Ele seja o primogênito entre muitos irmãos", os quais são parecidos com Ele.Assim é que, metafisicamente, aos olhos de Deus, nós somos uma obra acabada. Sua graça nos fez totais aos Seus olhos, de modo que judicial e forensemente estamos justificados. Mas historicamente falando, porém, veja o que Paulo diz em Filipenses 3.12,13: "Não que eu o tenha já recebido ou tenha já obtido a perfeição; mas prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus". No versículo 16 diz ainda: “Todavia, andemos de acordo com o que já alcançamos”. O versículo 15 ele já havia dito: “Todos pois que somos perfeitos, tenhamos este sentimento”. Os dois elementos (salvação-forense-judicial versus salvação-histórico-processual) estão presentes nestas citações.Veja o que se diz acerca da salvação forense-judicial: "Nós que somos perfeitos" (v.15). Ora, tal afirmação só é possível em Cristo. Fora dele, nenhum de nós, inclusive Paulo, é imperfeito e inacabado.Veja agora o que se diz sobre a salvação histórico-processual: “não tenho obtido a perfeição...mas prossigo para conquistar...todavia andemos de acordo com o que já alcançamos...” (v.12,13,16).Assim é que, forense e judicialmente estamos perfeitos em Cristo. Historicamente, porém, estamos ainda a caminho, de modo que a justificação já realizada e acabada em Cristo não deve estagnar o processo histórico de continuidade de nossa salvação. Com relação a este último aspecto, Paulo utiliza em Filipenses três palavras e expressões processuais do tipo “prossigo”, “avançando”, “andemos”, “não alcancei”, e “tenho um alvo”. São palavras e expressões que nos colocam a caminho e que não permitem que a justificação se engesse no moralista religioso ou se apóie na graça barata.Ainda em Filipenses 3, Paulo diz que a salvação, enquanto obra a ser desenvolvida, implica num processo histórico, pois tem relação com três tempos: passado, presente e futuro. Ele diz que as “coisas que para trás ficam”, para trás ficam; que as coisas do presente ao presente pertencem (“não que eu tenha alcançado”) e que as coisas do futuro, “diante de mim estão”. Ora, isto é precisamente o que compõe a História: presente, passado e futuro. Portanto, tal salvação-santificação tem que se desenvolver aqui, na História.Paulo também afirma que este processo histórico pode ser chamado de processo de “cristificação”. Esse processo é dinâmico. Ele diz: “...não obtive, porém prossigo...”. Todos nós podemos alcançar tudo quanto Deus colocou à nossa disposição.Ora, aqui neste ponto nós voltamos objetivamente ao tema da santificação, e com uma pergunta. Isto porque uma vez que os conceitos básicos relacionados com a salvação estão postos, nós devemos perguntar o que isso tem a ver com a nossa santificação. Não devemos nos esquecer de que em João 17, texto de nosso estudo, o Senhor Jesus disse que Ele mesmo se santificava a nosso favor. Ou seja: há algo da vicariedade de Jesus na nossa santificação também. É bom afirmar isto, pelo simples fato de que há muito legalismo com relação à perspectiva da santificação. Na maioria das vezes, a santificação tem sido entendida como sendo o “lado humano” da salvação. Ou seja: “Cristo nos salvou e cabe a nós tornarmo-nos dignos da salvação através da santificação”. No entanto, não há santificação possível que prescinda também da graça santificadora de Deus. Com isto não estou dizendo que a santificação não implica em compromissos éticos concretos na história. Se assim fosse, eu estaria negando tudo o que escrevi a respeito da necessidade das nossas vidas confirmarem a revelação da Palavra. Como diz Willian Barclay: “o cristianismo, como também o judaísmo, é essencialmente uma religião ética. Por isso se deve dizer que o cristianismo insiste que o ser humano deva viver um certo tipo de vida e ser um certo tipo de pessoa” (William Barclay; "The Mind of ST. Paul”, pág 75).Do mesmo modo que o Novo Testamento ensina que a salvação é fruto da graça de Deus realizada e consumada em Jesus Cristo, ele nos ensina também que a realidade da santificação se alimenta da mesma fonte de eficácia espiritual: a Graça. A santificação resulta de uma vida que antes de tudo se viu morta em Jesus Cristo para o pecado (Rm. 6.11-14). Na realidade, a questão-chave da santificação se resume na expressão “estar em Cristo”. Estar em Cristo significa TUDO na vida cristã. Literalmente, não há qualquer progresso humano possível, fora desse estar “em Cristo”. Neste sentido, há uma diferença fundamental entre estar “em Cristo” e estar “na igreja”. Obviamente acredito que estar em Cristo significa também estar na IGREJA de Cristo. A questão, no entanto, é que a Igreja de Cristo se misturou com aquilo que nós chamamos de Cristandade. Foi precisamente nesse sentido que Santo Agostinho disse “que a igreja tem muitos aos quais Deus não tem e que Deus tem muitos aos quais a igreja não tem”. Para Santo Agostinho, a “igreja” não era necessariamente a IGREJA. Podia ser apenas uma deformação institucionalizada daquilo que Jesus sonhara.Isso porque, Santo Agostinho quanto nós, acreditamos que quem de fato está em Cristo está na IGREJA, e na comunhão da fé que a verdadeira Igreja promove e para a qual nos convida. No entanto, há aqueles que estão na IGREJA e que não conseguem “entrar nas igrejas”. Esses são cristãos, mas não suportam aquilo que nós chamamos de “cristianismo”.Descrevendo esse afastamento do cristianismo em relação à IGREJA conforme exposta no Novo Testamento, Jacques Ellul afirma em “Subversion of Christianity” o momento histórico em que essa mudança teve e tem lugar. O momento é exatamente quando sai-se da perspectiva orgânico-qualitativa de igreja para a perspectiva organizacional-institucional (por exemplo, quando a comunidade da fé vira “ismo”). Nesse caso, é como se uma fonte de água viva fosse transformada em um canal de irrigação mais ou menos regulado e estagnado, até ao ponto em que a água da fonte original torna-se totalmente poluída na medida em que ela vai sendo “mecânica e artificialmente trabalhada” pelo sistema de distribuição.De fato, o grande segredo da santificação, como já dissemos, é estar em Cristo e tendo sempre a coragem de verificar se estamos mesmo Nele (II Co. 13.5) Este é o princípio essencial à santificação e às demais virtudes da fé cristã. Do ponto de vista do Novo Testamento “em Cristo” nós temos:1. Consolação: “Se há, pois, alguma exortação em Cristo, alguma consolação de amor, alguma comunhão do Espírito, se há entranhados afetos e misericórdias, completai a minha alegria...” (Fp. 2.1,2).2. Ousadia: “Pois bem, ainda que eu sinta plena liberdade em Cristo para te ordenar o que convém ” (Fm 8).3. Liberdade: “E isto por causa dos falsos irmãos que se intrometeram com o fim de espreitar a nossa liberdade que temos em Cristo Jesus, e reduzir-nos a escravidão” (Gl. 2.4).4. Vitória contra a mentira: “Digo a verdade em Cristo, não minto, testemunhando comigo, no Espírito Santo, a minha própria consciência” (Rm. 9.1).5. Promessas: “...a saber que os gentios são co-herdeiros, membros do mesmo corpo e co-participantes da promessa em Cristo Jesus por meio do evangelho” (Ef. 3.6).6. O AMÉM de Deus à vida: “Porque quantas são as promessas de Deus tantas têm nele o sim; porquanto também por ele é o amém para a glória de Deus, por nosso intermédio” (11 Co. 1.20).7. Somos santificados: “À igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos, com todos os que em todo o lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso” (1 Co. 12).8. Somos sábios: “Nós somos loucos por causa de Cristo, e vós sábios em Cristo; nós fracos e vós fortes; vós nobres e nós desprezíveis” (Co. 4.10).9. Somos novas criaturas: “E assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura: As coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas" (II Co. 5.17).10. Somos chamados: "Porque o que foi chamado no Senhor, sendo escravo, é liberto do Senhor; semelhantemente o que foi chamado, sendo livre. é escravo de Cristo” (I Co. 7.22).11. Temos o mais elevado objetivo: "Prossigo para o alvo, para oprêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus" (Fp 3.14).12. Apesar de tantas vezes sermos imaturos, somos salvos:"Eu. porém, irmãos, não vos pude falar como a espirituais; e, sim, como a carnais. como a crianças em Cristo"(I Co. 3.1).13. Estamos estabelecidos: "Mas aquele que nos confirma convosco em Cristo, e nos ungiu, é Deus" (11 Co. 1.21).14. Podemos andar em vitória: "Ora, como recebestes a Cristo Jesus, o Senhor, assim andai nele" (Cl. 2.6).Tudo isso parece simples demais para as mentes mais sofisticadas e teológicas, as quais, por certo, até "pularam" esta série de 14 afirmações decorrentes de se "estar em Cristo". No entanto, as coisas acima mencionadas são seríssimas. Se não veja: se elas são assim tão simples, por que há tão poucas evidências dessa santificação em nosso meio? Por que tanto pecado, imoralidade, roubo, mentira, descrença, administração iníqua dos bens da igreja por parte de líderes? Por que tanta traição, falsidade, calúnia, inveja e maldade? E mais: por que isso acontece tão intensamente dentro da igreja quanto acontece fora dela? E mais: por que os grupos cristãos mais legalistas são, tantas vezes, as mais desgraçadas vítimas desse fracasso?Talvez tudo isso aconteça pela simples razão de que aquilo que o evangelho nos convida a ser tem íntima ligação com a Graça de Deus. E, nesse sentido, aquilo que o evangelho oferece é intolerável e inaceitável. Você julga que há alguma coisa aceitável na graça? Não! As pessoas não gostam da graça justamente porque a graça não lhes dá controle sobre a situação. A graça não depende de mim. Ela extrapola meu domínio. Não há nada de seguro no fato das pessoas condenadas à morte estarem livres dela porque um desconhecido e Estranho Soberano simplesmente as livrou disso, sem lhes dar qualquer razão justificável para tal ato. A graça é totalmente arbitrária: "Eu serei gracioso para quem Eu quiser ser gracioso e misericordioso para quem Eu quiser ser misericordioso..." Nesse caso não há nada que possamos fazer: não há sacrifícios, ritos, orações, atos de bondade, busca de sabedoria, ascetismo moral e religioso, etc. Nada pode ser feito para se ter controle sobre a graça. Não há trocas a serem feitas, e assim nos sentimos extremamente humilhados na nossa incapacidade de "justificar" a relação, pelo menos por um pouco. A graça exclui tudo aquilo que nos garante segurança. Nossos sacrifícios não são aceitos, nossos moralismos são ridicularizados, nossas liturgias são chamadas de cansativas, e nossas justiças próprias são chamadas de trapos de imundícia. Pode haver algo mais afrontoso para a natureza humana do que esse estado de absoluta impotência no qual a graça coloca a todos nós? Não! E por isso que o legalismo é o supremo ato de rebelião contra Deus. O legalismo é mais blasfemo do que o desconhecimento de Deus (Rm. 2.12-16). O sincretismo, o paganismo e a promiscuidade suscitaram menos a ira de Jesus do que o legalismo que lutava contra a graça. Todos nós ficamos possuídos por um desejo obcecante de justiça própria. Temos obcecante desejo por nos mostrar justos e retos. Nossa maior idolatria é aquela na qual nós mesmos somos os "nichos" e os “santos" do nosso culto moral. Nosso maior prêmio é sermos vistos como justos pela nossa comunidade. Ora, nesse sentido, nós, "religiosos", somos menos susceptíveis à graça de Deus do que as meretrizes e os pecadores da nossa sociedade? Eles já estão "como canas quebradas e como torcidas que fumegam" (Mt 12.20). Eles já perderam a chance de lutar pela sua justiça própria. Foi por isso que eles foram os mais receptivos à graça de Deus durante o ministério de Jesus.Eu quero dizer que a única maneira de receber o beneficio da graça de Jesus que nos santifica é mediante a aceitação da nossa total incapacidade de justificar o que Deus fez e está fazendo em nós. Somente quando nossas armas estão completamente depostas é que o Espírito pode atuar em nós, a fim de nos fazer entrar no profundo processo da santificação. Cristo já fez tudo na Cruz. O que nos resta é exorcizar os demônios das nossas pretensões religiosas, a fim de sermos suficientemente simples para receber aquilo que só os humildes de espírito admitem: a graça de Deus.Paginas 38 a 47 de ORAÇÃO PARA VIVER E MORRER, publicado em 1994; e escrito em 92; por Caio Fabio.

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

O QUE VOCÊ TEM NO CORAÇÃO: Sinai ou Sião?


O escritor de Hebreus disse que aos que retrocediam da Graça para a Lei, que eles não sabiam o que era viver de fato sob a Lei. E disse que o que eles pensavam que era viver sob a Lei, nada era, senão jactância; pois, disse ele:

Não tendes chegado ao monte Sinai, palpável, aceso em fogo; e nem entraste na escuridão, e nem nas trevas; e nem estivestes sob a tempestade, e nem tampouco ouvistes o sonido da trombeta, e nem a Voz das Palavras, a qual os que a ouviram rogaram que não se lhes falasse mais; porque não podiam suportar o que se lhes mandava: Se até um animal tocar o monte, será apedrejado. E tão terrível era a visão, que Moisés disse: Estou todo aterrorizado e trêmulo.

Assim, o cenário palpável no qual a Lei foi dada tem sua equivalência interior sempre que a alma decide viver e se salvar pela insuportabilidade da Lei. Ora, digo existencial [interior] porque o fato histórico da entrega da Lei foi um só; e tudo o mais que à Lei concerne, daí para frente, tem sua repetição na interioridade; pois, nesse caso, o Deserto do Sinai se muda para o coração.

Ora, este é precisamente o cenário interior que a Lei gera naquele que busca viver por meio dela para sua salvação e santificação.

Sim! É consciência acesa em fogo, adentrada na escuridão, imersa em trevas, ao leu da tempestade da alma, em estado de guerra convocada pela trombeta do medo e do pânico; ouvindo a repetição de palavras insuportáveis; ficando apavorado com o rigor da Lei, que não poupa nem a animais, quanto mais à presunção humana... De modo que até mesmo o mediador da Lei, Moisés, ficou aterrorizado e tremulo.

Assim, aviso aos Legalistas e aos Judaizantes:

Todo Homem da Lei que não vê em seu coração o mesmo cenário que os Israelitas viram no deserto, quando ouviram a Lei, é cínico e não está entendendo o que a Lei diz. Pois um legalista que não conheça os cenários psicológicos acima descritos é apenas um fariseu empedrado. Ele não sente nada por ele mesmo virou a pedra das Tábuas da Lei.

Assim, só respeito legalista que fiquem como Moisés e como o povo ante a Voz da Lei: aterrorizados e trêmulos.

Legalistas piadistas e brincalhões já entraram no estado de pedra da tábua da lei.

Portanto, um bom legalista tem que ser completamente neurótico como Saulo era. Do contrário, não tem compromisso com a Lei, mas apenas com a aparência dela — como é o caso da maioria.

Entretanto, o escritor de Hebreus diz que se a pessoa é da Graça, é do Mediador Eterno, é do Sumo Sacerdote segundo a Ordem de Melquizedeque — então o oposto já deve ser verdade existencial para ela Hoje.

Por isso diz:

Tendes chegado ao Monte Sião, e à cidade do Deus vivo, à Jerusalém celestial, a miríades de anjos; à universal assembléia e igreja dos primogênitos inscritos nos céus, e a Deus, o juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados; e a Jesus, o mediador da Nova Aliança, e ao Sangue da aspersão, que fala coisas superiores ao sangue do justo Abel.

Desse modo, na Graça [nunca na Lei] se diz que já se tem chegado a Deus, o juiz de todos [sem medo]; e isto por causa de Jesus, o mediador da Nova Aliança; e, sendo assim, entramos no ambiente existencial do Monte Sião, da cidade do Deus vivo, da Jerusalém celestial, das miríades de anjos, da universal assembléia, da igreja dos primogênitos inscritos nos céus e dos e aos espíritos dos justos aperfeiçoados.

Ora, tudo isso por causa do Sangue da Eterna Aspersão!

Desse modo, verdade com a Lei é inferno e neurose para a alma!

Do mesmo modo, fé em Jesus e na Palavra da Graça, conforme o Evangelho, tira o medo, acaba a escuridade, acalma a tempestade, apaga o fogo do inferno, faz cessar o som da milícia interior, e pacifica o coração.

E mais que isto: dá à pessoa um outro cenário interior; e que é de pertencimento antecipado de todos os bens eternos; afinal, o que significa passar da morte para a Vida?

Pense nisso!

Nele, que é o céu em mim,

Caio

17/09/07
Manaus
AM

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

O SEGREDO...PSIU !


“Se alguém quiser fazer a vontade de Deus, há de saber se a minha palavra é Dele, ou se eu falo por mim mesmo.” – Jesus, em João 7:17


O significado do que Jesus diz acima inicia com a pergunta: E vale a pena querer saber o que Jesus promete como vida?

Ele não promete sucesso, nem riquezas materiais, nem altos postos, nem amizades universais, nem fazer a pessoa ficar entre os “mais, mais”; nem oferece turismo pela vida, nem sedução, nem conquistas de poderosos, nem influencias, nem honras, nem alivio algum; antes, diz que se terá aflições, que se será perseguido, que se aprenderá a ser feliz enquanto se chora, e a ver o reino dos céus enquanto na terra ninguém nos vê; e fazer a paz entre os homens e ouvir que você é filho de Deus, e nem por isso se sentir dono de nada; a não buscar encher os pensamentos com hiper-atividade, antes limpá-los; e isto para que se aprenda a exultar na opressão; e, como incentivo, nos oferece o exemplo de gente que foi cerrado ao meio, jogada em poços, castrada em exílios, banida para o nada, traída, maltratada e morta — “como os profetas que viveram antes de vós”, diz Ele.

Em compensação... — Ele disse que tais pessoas que desejarem fazer a vontade do Pai e assim saberem se o que Ele disse é fato ou não, conheceriam uma alegria que ninguém lhes poderia tirar; que seriam habitadas pelo Espírito de Deus; que andariam sem nada, mas possuindo tudo; e que tais pessoas seriam vistas como os seres despojados, enquanto enriqueceriam a muitos.

Além disso, Ele também disse que tais pessoas teriam muitas mães, pais, irmãos, e filhos; e que mesmo perseguidas sempre encontrariam um irmão na jornada; mas que se a ninguém encontrassem, ainda assim não estariam sós; pois, Deus mesmo com eles estaria.

E mais: Ele disse que daria poder para que tais pessoas curassem doentes, expelissem demônios, e fossem embaixadores da Graça, de graça, onde quer que cheguem com o Segredo Revelado.

Entretanto, Ele também disse: “Farão as obras que eu faço; e outras maiores farão; pois, eu vou para junto do Pai”.

As obras de Jesus como promessa!

Sim! Há pessoas que gostariam de fazer apenas as obras chocantes de Jesus, mas jamais aceitariam ser chocados pelas obras de Jesus como opção de realizá-las. Pois, para cada milagre de Jesus há uma nova perseguição. De tal modo que segundo o espírito de Jesus, quanto mais “sucesso”, mais perseguição e mais inveja homicida.

Jesus só não foi perseguido pelas obras que fez em secreto. As demais, todas elas, geraram perseguição.

Assim, segundo Jesus, o Segredo das Coisas não está no pensar positivo e se tornar um magneto de convergência universal de todos os bens do mundo.

Se Jesus tivesse ficado em estado de pensamento nada teria mudado!

Ele nunca pensou a vontade do Pai. Ele a comia. Ele queria realizá-la. Por isso Ele não disse “Eu sou o Estado Mental, o Pensamento e o Sucesso”; mas sim: “Sou o Caminho, a Verdade e a Vida.”.

Para Jesus há o Segredo. E o Segredo é “querer fazer a vontade do Pai”.

Sim! Somente quando se põe o pé na estrada do amor de Deus, sem discussão, e apenas seguindo em fé, sem saber para onde se vai, porém andando em confiança, é que se prova o Segredo; o qual enriquece o coração, pacifica a alma, instrui o espírito, amansa o ser, tira a fobia do morrer, eleva o entendimento para além das lógicas, fortalece o individuo para toda vicissitude, e dá a ele o poder de se gloriar até nas tribulações; pois, amando a Deus pela fé, e a Ele se submetendo em amor, tal pessoa se torna o ponto de convergência do Segredo; o qual, já está revelado: “Cristo em vós, esperança da glória”; o que faz com que o presente viver na carne seja pela fé no Filho de Deus que nos amou.

Ora, isto gera amor por Ele; e é de tal amor que vem o fechamento do ciclo do Segredo: Todas as coisas passam a contribuir conjuntamente para o bem de tal pessoa.

Este é o Segredo!

É de Graça!

É por causa da Graça!

É mediante a fé!

Não vem de nós!

É dom de Deus!

Para que ninguém se glorie e diga: Eu tenho Segredo.

Você quer?

Tudo está no querer!

Quer?



Nele, que diz:

“Se alguém quiser fazer a vontade de Deus, há de saber se a minha palavra é Dele, ou se eu falo por mim mesmo.”



Caio

13/09/07
Manaus
AM

domingo, 9 de setembro de 2007

E A MORTE JÁ ERA...


A morte morreu, a maioria de nós é que não sabe apenas porque não crê.

Morreu de Cruz. Morreu de Luz. Morreu de Amor.

Morreu de septicemia de Vida.

Morreu quando o 1º e único Verdadeiro a encarou.

Morreu pelo poder de amar mais a vida do que a morte.

Morreu porque o único humano que amou mais a Vida do que a Morte foi Aquele que por amor ao mundo morreu pela causa da Vida Eterna.

Morreu quando houve Ressurreição.

Morreu quando houve libertação do Cativeiro quando Ele subiu e concedeu dons aos homens.

Morreu porque sua ilusão foi desmascarada.

Morreu porque só matava a quem a via — todos a viam.

Matava só enquanto se não morria...

Matava porque fazia da vida a própria morte.

Matava porque se tornara patroa dos homens.

Matava porque os homens trabalhavam [e trabalham] para ela.

Matava [e mata] dando aos clamores dos homens a ela, o seu salário: a morte.

Matava porque morte se paga com morte.

Matava...

Mata a quem crê que ela ainda mata.

Mas não mata nunca mais a quem morreu, ressuscitou, ascendeu, se assentou, e está em Cristo Jesus nos lugares celestiais.

Quando Ele subiu da morte aos céus pela Ressurreição, com Ele fui levado no cativeiro que Ele fez Seu despojo, e, por isso, passei da morte para vida.

Tudo vem Dele!

Você quer?

Vem e vê!



Nele,


Caio

07/09/07
Manaus
AM

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

MEÇA A SUA FANTASIA


O que vê no homem é o que determina o que o homem vê. Pois, o mundo existe na mente antes de existir na Terra. Assim, todos os dias o mundo muda tantas vezes quantas mudem os olhares.

As pessoas não mudam se suas mentes não mudarem. Nada muda sem metanóia.

Às vezes a metanóia é boa, às vezes é má.

É boa quando ela é-trás arrependimento e renovação do entendimento baseado na verdade, não na “realidade” — afinal, a “realidade” é quase totalmente irreal para a maioria dos homens; pois, só Deus sabe o real de modo absoluto — posto que a “realidade” é relativa ao homem, mas a verdade é para além do homem. Por isto, somente a verdade o pode libertar da escravidão do pecado como irrealidade, fantasia, surto; e como um olhar que busca deter a verdade pela injustiça, pelo engano, ou pelo auto-engano.

Ora, a metanóia é má pela mesma razão que a faz ser boa quando boa é; pois, o que vê no homem é que determina o que o homem vê.

Assim, quando o que no homem vê, tudo vê a partir do olhar da neurose animal de poder, e pelo ver através da paranóia de defesa e segurança, o que daí procede é um mundo mau do lado de fora. Mal mesmo quando não é mau.

Para Jesus o mundo era mal como ambiente de relações; e seu sistema era mau por ser fundado na morte e no medo de amar. Por isso, o mundo tinha que ser vencido; e Ele diz: “Eu venci o mundo!”.

Entretanto, no mesmo lugar onde Ele assim declara, Sua palavra anterior foi outra, esmagadoramente realista e verdadeira: “No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo; pois, eu venci o mundo”.

Jesus venceu o mundo?

Como?

Ora, o mundo continuou o mesmo, mas, para quem entendeu a linguagem de Jesus, o mundo nunca mais foi e nem será o mesmo; pois, o que vê no homem é que determina o que o homem vê.

Desse modo o olhar de Jesus vê a aflição inevitável que se experimenta no mundo, incluindo a desses aos quais Ele designa como “vós”.

Além disso, Ele não isenta ninguém, daí esse “vós” de privilegiados não ser excluído do tratamento do real na experiência do mundo; pois, a única realidade do mundo é sua aflição; o resto é fantasia; por vezes até a razão-causa da aflição é fantasia; embora a aflição seja real; posto que o mundo é aflição. Ou pode algo que jaz no maligno não ser aflição?

Entretanto, o olhar de Jesus é ânimo-constante. Ele vê o mundo e abre nele a Sua Porta, a Sua via, o Seu Caminho, e que são únicos e absolutos — e quem Nele crê passa a ver o que Ele vê; e vai crescendo dia a dia numa apropriação de olhar do mundo que carrega o ver-ânimo de Jesus.

Vencer o mundo é vencer a aflição com bom ânimo!

Quem sabe que veio do Pai e volta para o Pai não imagina jamais que esteja sozinho na jornada no mundo!

Assim, veja em você o que você de fato diz que mudou à sua volta, como que justificando a sua própria mudança, e pergunte-se: O que mudou?

Assim, pergunte...

Meu marido mudou mesmo? Ou mudei eu no meu modo de vê-lo?

Minha mulher mudou ou fui eu que passei a buscar uma razão para ter outra pessoa em razão de minha ansiedade por fantasia?

Pergunte acerca de tudo o que você diz que mudou... Veja o que e quem mudou; e, se for o caso, tenha a coragem de admitir que foi apenas o seu olhar que mudou pela fantasia, e que ninguém mais é responsável por isso além de você mesmo.

Também olhe para dentro e veja; veja sem medo; e encare a verdade.

Por exemplo, esse homem-impossível acerca de quem as mulheres me escrevem, existe em algum lugar que não seja a fantasia feita escrava pelo desejo cativo da ilusão como destino de Felicidade e suspensão da realidade?

Ou: Essa mulher-maravilha que os homens buscam e só acham no lugar do proibido e do impossível, existe como realidade do dia a dia de alguém?

Ou ainda: Se ela é a mulher-maravilha, por que o marido dela busca maravilha em outra?

Ou seja: não será apenas por que tudo está no olhar e nas suas metanóias — para o bem e para o mal?

Por que será que a alegria verdadeira não habita, em geral, o coração na primavera da fantasia, e apenas o visita com mais freqüência quando os cabelos já estão brancos como a amendoeira que floresce?

É que o olhar da juventude só vê como bem o que está fora [em geral]; e na velhice já não se tendo nada a recorrer fora, o olhar começa a buscar seu conforto do lado de dentro.

Então, com propriedade diz o ditado inglês que a juventude é desperdiçada no jovem.

Entretanto, a Promessa do Espírito é que jovens sonham e velhos têm visões. Portanto, a promessa é que o olhar do Espírito em nós haveria de mudar o mundo aos nossos olhos, mesmo que o mundo da “realidade” estivesse como disse o profeta Joel, cheio de fogo, fumo e vapor de fumo; com o céu pintado de trevas de dia e de sangue à noite.

Assim, o que vê no homem é que determina o que o homem vê.

Foi só por esta razão que Jesus disse que o olhar é a lâmpada do corpo-ser; e disse que é de nós, de nosso olhar em bom ânimo e fé, de onde nasce e emana o mundo no qual nós vivemos [a vida abundante]; não importando em que outros mundos outros nos chamem para existir.


Pense nisso!



Caio

04/09/07
Manaus
AM

LIVROS DO CAIO FÁBIO ( Livres p/ download ).

Alguns livros do Pr. Caio Fábio foram digitalizados e, agora, estão disponíveis em PDF para download.




É só clicar e aguardar.
(demora um pouco para abrir)



Tenha uma ótima leitura!
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