Comamos e bebamos, que amanhã morreremos! — Paulo, ironizando a desesperança cristã.
Na primeira carta enviada aos cristãos em Corinto, na Grécia Antiga, o autor faz uma gravíssima declaração ao alertar que se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, então, apesar de dizermos que cremos em Cristo, ainda assim somos os mais infelizes de TODOS os homens da Terra .
Veja: ele não falava dos homens, mas, entre eles, de “nós”, de nossa esperança feita religião sem transcendência, sem amor pelo eterno, sem alegria no invisível.
Portanto, o cenário existencial que Paulo pintava era o de cristãos sem esperança ou com a esperança confinada por algo como a teologia da prosperidade. Tal teologia não celebra a eternidade, mas apenas a temporalidade dos sucessos humanos mensuráveis pelas quantificações materiais. Para a teologia da prosperidade, o maior poder da ressurreição de Jesus é a ressurreição de negócios e a restituição de finanças dos falidos.
Paulo está afirmando que é possível haver pessoas que confessam que crêem em Cristo, mas confinam sua relação com Jesus apenas aos horizontes deste mundo. Elas O vêem apenas como um poder; um mestre-de-resultados; um Cristo para consumo social, psicológico, comunitário, mágico-imediato para ser acionado como solução para as questiúnculas desta existência. “Jesus” é uma massa energética de natureza psico-religiosa, que dá às pessoas a magia necessária para que não vivam sem crença, o que para muitos é algo indispensável.
Essa foi uma crença comum no primeiro século, quando havia uma horda de falsos apóstolos, obreiros fraudulentos, profetas e mestres . Todos afirmavam um Cristo à feitura do paganismo da época, e que se relacionava com os homens dependendo da generosidade deles para com esses “seus” supostos “representantes”. Mesmo na tentativa de confinar a esperança somente a esta existência, esse não seria o “produto” do Evangelho, que propõe frutificar ainda que a videira não floresça. O contentamento em qualquer circunstância, produzido pela Palavra, é o poder de Deus que não se transforma em mercadoria.
Sim, a tal declaração de Paulo sobre os cristãos se tornarem os mais infelizes de todos os seres humanos tem um contexto muito claro. De fato, o apóstolo estava lidando com uma comunidade perdida entre a fé que ouviram dos discípulos de Jesus, os assédios dos cristãos judaizantes (que queriam fazer um mix entre Jesus e Moisés), a sedução dos gnósticos e a volúpia dos milagreiros oportunistas — sempre (e todos) desejosos de cativar o interesse “dos de Corinto” para o seu próprio “mover-movido-de-ganância”.
O fato é que entre tantas loucuras, que iam desde legalismos judaicos tornados obsoletos em Cristo até a submissão burra a tudo o que se dizia em nome de Jesus (não importando se o que se ensinasse fosse o oposto do que Jesus viveu e ensinou), não havia nada diferente do que se tem hoje!
E Paulo prossegue fazendo outras assertivas. Entretanto, a mais forte delas, para a existência presente, é aquela que afirma que a Ressurreição de Jesus é o fator de transcendência sem o qual o espírito humano não tem razão para viver, especialmente depois de ter dito que crê em Cristo. Paulo é claro: Se Cristo não ressuscitou, comamos e bebamos, que amanhã morreremos! Fica tudo sem razão de ser, porque tudo que é na FÉ é em função da esperança de transcender a própria morte!
Desse modo, Paulo revela-nos uma categoria existencial desgraçada, a saber, a daqueles que “crêem em Jesus” como instrumento de manipulação dos destinos DESTA vida, numa esperança oca, tosca e de curta validade que está destituída de reais referências à Segurança Eterna de pertencer a Ele! Assim, se tudo vai bem, o céu desceu à Terra; entretanto, se algo vai mal, é a alma que desce ao Inferno: “Onde foi que eu errei”?
Esse tal “Cristo de Corinto” é como o “Jesus” pregado nos cultos cristãos de hoje! Ora, entre nós, quase que invariavelmente, o que se tem é essa crença num Cristo que é o Despachante dos Crentes que dão ordens a Deus, conforme a diabólica “Teologia da Prosperidade” e seus filhotes confessionais — e que nada mais são que ensino de demônios. Sim, ninguém duvide: A desgraça da Teologia da Prosperidade é que ela transformou os cristãos em discípulos de um “Cristo” que não é Jesus.
É o Cristo da primeira casa, da segunda casa, da casa com piscina, da casa de campo. É o Cristo do primeiro emprego, do melhor emprego, da primeira empresa, das muitas empresas e das vitórias sobre sócios inconvenientes. Esse “Jesus”, além disso tudo, ainda funciona como Cupido em problemas amorosos!
O problema é que a Verdade demanda verdade na pessoa; caso contrário, a própria Verdade a precipitará no abismo de um pânico existencial difuso, mas que se torna angústia inexplicável, um dia, quando ela perceber que poderá até ter tudo, mas não terá NADA.
Esse “Cristo”, que apresenta esperança apenas para esta vida, somente torna a existência muito pior. Como diz Pedro, melhor é viver sem consciência, como um pagão, do que uma vez que se tenha conhecido a Palavra da Verdade, vir a trocá-la pela mentira do “deus-do-imediato”. Esse “Senhor e Salvador” serve apenas para as conquistas perversas e para os ganhos malandros e mágicos, conforme entre nós se vê sendo pregado!
Esse “Cristo” é o diabo! – Creiam-me! Porque quando um filho morre, desse “Cristo” não se tem consolo; quando o marido se vai, “Dele” não se tem carinho, só culpa; quando um parente adoece e não é curado, “Dele” só se tem juízo contra aquele que, pela fé, não conseguiu a cura; e quando se peca feio, “Dele” não se tem perdão, mas apenas uma longa e infindável penitência. E tudo isso tendo em vista não perder as conquistas materiais ou amorosas obtidas até então. Diz-se que se “volta para o final da fila”!
Todos os líderes desse “Cristo” só são fortes e veementes quando a vida não demanda a paz que excede a todo entendimento; do contrário, morrem de angústia.
Todos os líderes desse “Cristo” têm um medo desgraçado de morrer. Sim. Eles temem terrivelmente a morte, pois sabem que terão de prestar contas de suas perversões contra a verdade.
Sim! Eles não têm a esperança da Glória de Deus, não são filhos da Eternidade, não celebram a ressurreição como Esperança e nem tampouco aguardam novo Céu e nova Terra nos quais habita justiça. O céu Deles é a prosperidade do mundo!
Quem tiver dúvidas acerca do que digo, aguarde e verá que esse irremediável déficit de esperança induzirá a grande angústia, que tomará tais cristãos em pouco tempo, quando caírem as últimas máscaras.
Então, haverá muita gente se entregando ao Nada, ao Vazio, à Promiscuidade, ao Medo, ao Pânico, à Depressão, e ao Cinismo!
Falar-se de Cristo, mas só ter esperança para esta vida é algo muito pior do que ser ateu. Sim! Bem-aventurados os ateus, pois, honestamente não criaram um “Cristo-Mercadoria”. A alma destes está sob melhores cuidados espirituais do que a daqueles.
A tais “cristãos”, Pedro diz: “Melhor lhes teria sido jamais terem dito que conheceram o caminho da verdade”!
Veja a “questão evangélica”. Em décadas passadas, ainda era possível ser Evangélico entre os “evangélicos”, pois, de fato, o fenômeno ainda era somente o da existência de sementes das perversões que vieram a corromper quase que por completo o “meio evangélico”. A coisa ficou muito mais feia ainda!
Todavia, há algo acontecendo. Sim! Nem tanto porque as pessoas estejam, pela Palavra, entregando-se à Verdade, mas, sobretudo, porque estão sendo espancadas pela verdade das práticas abusadas desses “ambientes da Fé”, e então, já não conseguem mais dar tanto crédito à mentira desavergonhada. Uma hora cansa! Portanto, tais pessoas (e são milhões aqui no Brasil) estão vazias, e, de algum modo, estão se tornando cínicas...
É claro que todos os dias há desesperados entrando no engano. Ora, se eles vão à Macumba, não têm por que resistir ao convite para enriquecer rápido num “Templo Lotérico Maior” qualquer ou em alguma de suas “agências lotéricas” espalhadas por todo o país. Isso sem falar nas “Casas de Câmbio” que aplicam em menor escala o jogo que tão bem aprenderam com os inventores das regras.
Entretanto, os discípulos desse Evangelho “David-Cooperfieldiano” estão perdidos e sem saber o que buscar.
O estrago que é feito em razão de alguma falência aqui ou ali, por mais forte que seja, não necessariamente os empurra para fora da fé. Mas a perversão sistêmica, virulenta, constante, diuturna e midiática contra o espírito do Evangelho tem o poder de anestesiar a alma de milhões. É o que aconteceu entre nós, tornando o Evangelho o “evangelho” do dinheiro, da insinceridade e do abuso de poder.
O resultado é esse que todos podem ver!
Uma imensa horda de fiéis está deixando de ir às “igrejas”, e, enquanto isso, tomados pelo vazio ou pela descrença, dizem que são de Jesus, mas, cada vez mais, vão vivendo com raiva de “Deus”, pois transferem o engano dos homens para a conta divina.
E, interiormente, com ou sem palavras, dizem: “Deus às favas! De que me adiantou? Só perdi tempo. Fui enganado!”
Assim, por tal decepção e segundo os milhares de cartas recebidas, há “evangélicos” “tirando o atraso” em casas de swing, em casos extraconjugais, viajando a esmo pela Internet, vivendo em chats cheios de “evangélicos” desejosos de “soltar a franga”... Também estão em todos os esquemas de lavagem de dinheiro, de exploração ilegal de madeira e do meio ambiente, de contravenções e de trapaças políticas.
O que está acontecendo com a alma dos discípulos de Jesus hoje?
Ora, o que antes era orgulho, arrogância e surto de superioridade, agora se transformou em indiferença impressionante, em cinismo equivalente, e em mornidão incomparável.
Quem, todavia, for discípulo de Jesus, por mais chocado que fique com esse retrocesso “evangélico” à Idade das Trevas, não desanimará, e nem se tornará cínico. Ao contrário, não perderá mais tempo com o que já morreu, deixando que os mortos se ocupem de tal funeral, e, enquanto isso, olhará para cima, exultará no Espírito e sairá para pregar e viver o Evangelho. Fará de todo banco um púlpito, de cada esquina uma Catedral, de cada mesa um encontro de alegria com a Boa Nova e de todo relacionamento humano uma chance de comunhão fraterna ou de anúncio bondoso da Graça de Deus.
Ao contrário de ser uma palavra de denúncia, esta é uma palavra de ânimo e de consolação.
Portanto, volte a ler os evangelhos e a meditar na Palavra. E não se esconda. Do jeito que as coisas estão, a maioria dos que desejam ser do Evangelho precisam romper com os dogmas de morte e juízo proclamados por aqueles que profanaram o sangue da Nova Aliança, que pisaram sobre a Cruz de Cristo e transformaram a pregação da fé em negócio... Um “bom negócio”!
É para esses tais “cristãos”, que se flagraram sob a condição existencial da desesperança e do cinismo que impermeabiliza o coração como proteção, que escrevemos este texto. A Doce Revolução é para vocês!
É também para os “meninos da fé” que estão com o coração todo depositado genuinamente na busca de Deus, sendo, todavia, levados como ondas para lá e para cá, por todo vento de doutrina, pelo engano dos homens que induzem ao erro com astúcia. Sim, é para os que estão confusos, por que:
1) Pensam que se algum milagre acontece é por poder do milagreiro, não levando em consideração os magos do faraó (que também sabiam fazer varas se transformarem em serpentes) e não levando a sério Mateus 7:16-24, onde Jesus diz que milagres, curas e exorcismos acontecem pelo Seu nome apesar do milagreiro ser um “desconhecido” para o próprio Jesus.
2) Pensam que a Unidade no Corpo de Cristo é um acordo mafioso de silêncio ante o que é mau e que nega o espírito do Evangelho, engolindo blasfêmias cometidas pela manipulação-em-proveito-próprio do nome de Deus contra o povo, como se Deus fizesse parte de alguma corporação ou quadrilha. Daí a neutralidade, a passividade e a cumplicidade que obscurecem o entendimento.
3) Pensam também que tudo o que é falado atrás de um púlpito vira Palavra de Deus oriunda de um “ungido” intocável que transforma qualquer frase de efeito em oráculo . E depois combatem a “mesa branca dos espíritas” quando, de fato, eles são o povo do “púlpito branco”, que é um espiritismo sem transe, mas cheio do transe da arrogância e interpretações bíblicas “convenientes”.
Tudo isso porque, de fato, tal meninice religiosa se revela, principalmente em não se saber fazer distinção entre o nome “Jesus” e a Pessoa de Jesus, o que faz com que celebrem um “Nome” que não tem correspondência com a Personalidade que o possui, com Seu ensino e com Sua prática, conforme as narrativas dos evangelhos.
A esses irmãos, pedimos que considerem a bênção de simplesmente... pensar.