O problema da religião é que ela elege a confissão verbal como marca da relação com Deus e, por causa do que confessa, reivindica o direito a essa relação. Esquece o Cristo dizendo que os seus seriam reconhecidos não pela fala, mas pelo amor de uns pelos outros; que o chamado seria para salgar a terra e não para reproduzir uma confissão de boca; que os falsos profetas seriam reconhecidos pelos seus frutos e não por suas confissões; que a confissão deles diria justamente "Senhor, Senhor..." mas que ouviriam "Afastem-se de mim", não por terem uma confissão errada, mas por praticarem o mal.
Esquece que o Samaritano não foi exaltado por sua confissão de fé; que a fé do centurião romano foi elogiada apesar da estranheza da declaração; que a Verdade que liberta não é um conceito, uma doutrina ou uma regra de fé e prática a ser aceita e declarada, e sim uma Pessoa a ser seguida ("Eu sou a verdade")
O problema da religião é que ela trabalha para reproduzir confissões. Esquece que a confissão é algo entre Deus e o homem; que ninguém consegue levar Pedro a declarar "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo!" Esquece que uma declaração de fé não socorre o necessitado; que o sacerdote e o levita eram os da confissão e eles passaram pelo outro lado. (Lucas 10.25-37)
O problema da religião é ela achar que o mundo vai louvar a Deus quando confessar que "Jesus Cristo é o Senhor". Esquece que essa frase está na parede dos maiores abatedouros de almas, e na boca dos maiores desdenhadores de seres humanos. Acha que o mundo vai louvar a Deus quando confessar o Cristo, mas esquece que esse mundo precisa ver boas obras para que isso aconteça: "Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai que está nos céus" (Mateus 5.13-16).
O problema da religião é não admitir que a confessionalidade virou estratégia para encher lugares, promover adesões e fazer prosélitos.
O problema da religião é não admitir que só a evangelização que salga a terra pode dizer: "Não, filho, não precisa vim comigo, vai para a tua casa."
O problema da religião é ler isso aqui e achar que abrir mão da confessionalidade, é abrir mão da fé no Cristo.
O problema da religião é ela orgulhar-se de sua confissão, quando deveria sentir dores de parto por causa dela. O homem que se orgulha de sua confissão de fé perdeu (se é que já teve) a consciência de sua condição.
Pedro só ouve o "vem e segue-me" final, depois de responder à pergunta da confissão até o constragimento e, já magoado, ficar sabendo da inutilidade dessa confissão que não se traduz em amor e serviço ao próximo: "Simão, filho João, tu me amas? Apascenta as minhas ovelhas."
Devemos abrir mão da nossa confessionalidade, em nome de Jesus.
No Caminho,
Hugo Theophilo
Estação do Caminho em Maracanaú / CE
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