Tem muita gente judiciosa, legalista, moralista, marqueteira, oportunista, e desejosa por ficar na “moda”, falando de Graça de modo ridículo, pois não conhecem-na como bem para suas próprias almas. Isto porque quando é verdadeira, a Graça gera espírito de generosidade, misericórdia e perdão entre os homens; e, em relação a Deus, gratidão e confiança incondicionais.
Mas o que se fala hoje sobre Graça?
Para uns ela é uma “doutrina”. Para outros ela é uma “função divina”. Para alguns ela é “aquilo que nos salva”. Há ainda aqueles para os quais ela é a “nossa chance de barganha” com Deus. Para outros é um tema legal, bom, humano, generoso... E há a maioria, que fala na Graça como “sedução evangelizadora”. Para todos esses, a Graça não serve para nada em suas vidas, sendo apenas um “papo de crente”.
Os que pensam na Graça como uma “doutrina”, não sabem que torná-la qualquer coisa, mesmo uma “doutrina”, a converte em Lei de Pedras, uma espécie de Lei da Graça Escrita — o que torna aquilo que em si é intangível, e pela sua própria qualificação um “favor imerecido”, algo predefinido e contido, o que é uma contradição em relação à confissão de que a Graça é “favor imerecido”, posto que tudo aquilo que é imerecido, em si mesmo carrega a declaração total liberdade de ser. Assim, torná-la uma “doutrina”, é fazer dela uma Lei de Moisés Aristotélica. Nada além disso, visto que nesse caso, ela não é nada para o ser além de uma definição intelectual. Um ídolo da mente.
Os que tratam a Graça como uma “função divina”, vêem-na como algo que se parece com aquilo que, analogicamente falando, poderia ser visto como um “órgão de Deus”, assemelhando-se a uma espécie de fígado de Deus, ou Seu pulmão, ou Seu coração, ou Seus rins... Assim, quando se ouve tais pessoas falarem em Graça, soa a meus ouvidos como se um cirurgião estivesse tentando mostrar a constituição interna da Anatomia Divina. Uma obra de exumação teológica do ser de Deus.
Os que pensam na Graça como uma “chance de barganha” com Deus, vêem-na como se ela fosse uma oportunidade para apresentar um caso a um Rei. No entanto, nesse caso, a Graça é uma “oportunidade”. O resto, porém, fica por conta da malandragem do crente-súdito, quanto a aproveitar a chance na “mesa de negociações do Rei”, e apresentar uma proposta, fazer um acordo, fazer um sacrifício, etc... É o que Graça é para esses tais: a chance de sentar na mesa de “negociações” com Deus. Ou seja: a Graça seria apenas uma lobista, e que teria a prerrogativa de secretária de Deus, podendo definir quem consegue o direito de se assentar na mesa das negociações.
Para aqueles para os quais a Graça é um tema legal, bom, humano e generoso, ela é apenas um sentimento, uma escolha pelo que é humana e politicamente correto entre os liberais da Terra. É um tema bom para um livro. Para um best-seller agradável de ler. É “sadio”, é mais “humano”, é mais “cult”... Mas não gera vida, criando apenas uma espécie de posicionamento belo e correto, porém nada além disso.
Para os que a Graça é uma “sedução evangelizadora”, ela é uma estratégia, é o que se deve dizer aos que “ainda estão fora da igreja”, os quais ainda não foram presos pelas forças da Religião Cristã. Mas logo depois que a pessoa é “laçada”, a Graça é esquecida, ou vira doutrina, ou função divina, ou é aquilo que seduz o aflito ou que garante a oportunidade da barganha na mesa de negociações do Reino de Deus.
Quando eu comecei a falar em Graça explicitamente não como doutrina, não como função divina, não como “oportunidade” de barganha, não como um tema teológica e politicamente correto, e, muito menos como “sedução evangelizadora”, milhares estranharam... Isto há apenas três anos e meio.
Milhares foram as cartas que recebi acusando-me de ser “liberal”, ou de estar desconstruindo antigos esquemas teológicos, ou de estar me “auto-justificando”, ou de “exagero”, ou de muitas outras coisas... Quem lê o site desde o início sabe disto tanto quanto eu.
Eu, todavia, insistia em que a Graça não é especial, e que o comum é a Graça. E mais: que ela não é doutrina, mas uma consciência, fruto do entendimento do significado da Cruz, e cuja realidade não foi uma invenção divina para “remediar” a Queda, uma espécie de “remendo de pano novo em veste velha”. Mas é muito ao contrário disso. Pois se o Cordeiro foi imolado antes da fundação do mundo, então, desde o inicio a Graça é o especial-comum de toda ação de Deus. Além disso, somente num Universo Auto-existente, no qual Deus fosse apenas o Habitante mais Antigo e mais Poderoso, não haveria Graça, mas tão fomente atos de Benevolência de um “deus velho e forte”... Mas não seria Graça, posto que a Graça pressupõe a não existência de nada antes dela, sendo ela a Causa de ser de todas as coisas, visto que tudo procede de Deus, e nada o precede. Só assim a Graça é favor imerecido antes de tudo, posto que nesse caso, o ato de criar, é uma decisão de total Graça, visto que Deus não criou para se fazer acompanhar no Universo, mas apenas porque Deus só é Deus se cria. Um Deus que nada cria, não é Deus, pois um Deus que não faz tudo como amor livre, não é Deus. Aliás, nada é. Assim, o exagero não é exagero. Afinal, um Deus que é antes de todas as coisas, e que é amor, e que se entrega como garantia de Sua própria criação antes de realizá-la, é mais multiforme nas formas de Seu amor do que se pode imaginar, assim como chocantemente diversas são as criaturas que fez e as inconcebíveis variáveis de todos os Seus atos criadores. Isto porque se a Graça vem antes de tudo — o Cordeiro imolado antes da criação do mundo —, então, pode-se ver nas variedades da criação uma analogia da multiforme Graça de Deus, a qual, na criação, não obedece a nada fixo, mas se faz crescer em adaptabilidades infindas, posto que a Forma não é a Vida, porém a Vida tem muitas formas, e evolui na propriedade dos aplicativos que são propostos de modo pertinente ao crescimento da vida. Os aplicativos da Graça em relação aos homens são no mínimo tão variados, quantas são as variedades das criaturas criadas.
Porém, antes de tudo, a Graça equivale ao Conhecimento Experiencial de Deus. Uma Graça que é só logorreia religiosa, uma doutrina, ou o confeite de uma mensagem, ou que se apresente como qualquer outra coisa que não seja a experiência de Deus na vida, não é Graça.
A Graça gera o fruto da paz e inicia o processo de transformação do ser; e, sobretudo, dá à pessoa a certeza da Confiança, a qual é a demonstração mais papável da Graça na experiência humana em Deus.
Hoje leio já um monte de gente “papagaiando” sobre a Graça, embora, em suas bocas, a Graça ainda não seja aquilo que elas estão sentindo e falando, pois nem todos estão descobrindo que ela é a essência das coisas antes delas existiram. Não! Elas só estão começando a falar em Graça em razão de que já viram que o povo está compreendendo a Palavra; e como eles já se vestiram de baiana a fim de segurar a moçada, agora estão incluindo a Graça em suas falas, ainda que no coração continuem odiosos, mascarados, invejosos, oportunistas, ou apenas politicamente corretos. Afinal, algo só é “heresia e exagero” até que o povo comece a crer na mensagem. Desse modo, eles — que já se fizeram de “baianas” a fim de chamar atenção —, incluem a Graça na mensagem apenas para dar a impressão de que não pregam a “heresia” do desamor. Sim, porque não afirmar a Graça, já está soando como “heresia” para o povo. Então, muitos estão mudando a fala, embora nada tenha mudado em seus corações.
Quem crê na Graça, vive a Graça como experiência de amor e paixão por Deus, vivendo a Sua paz, e conhecendo a Deus para si mesmo, antes de falar no assunto para alguém.
A Graça não é só melhor que a vida. Sem a Graça não há vida. Embora em seu nome possam aparecer muitos “boneco de ventrículo”, os quais jamais conheceram a Graça como misericórdia pelo próximo; mesmo o mais esquisito deles.
Muita gente vai falar cada vez mais em “Graça”. A questão, todavia, é se eles conhecem, aproveitam, se beneficiam, e provam a Graça como alegria, descanso e paz.
Sem que seja assim, pode-se falar em Graça, porém, tal Graça, ainda é uma falsificação. Posto que a Graça não é para ser falada antes de ser experimentada e praticada como confiança em Deus e pacificação pessoal do ser.
Nele,
Caio
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