Os seres humanos são influenciados por tudo. Influenciados pelo que carregam geneticamente, pela herança cultural familiar e regional, pela força dos significados de sua própria geração, pelas tendências do mundo — de que tamanho seja o mundo da pessoa —; pelos afetos, pelos amigos, pelo companheiro [a], pelo trabalho, pelas suas fontes de informação, e, também, pelo mundo invisível.
Diversas vezes nos Evangelhos Jesus adverte sobre essas fontes de influencia.
Por exemplo:
“Cuidado com fermento de Herodes e dos Fariseus!”
“Acautelai-vos desta geração perversa!”
“Vigiai, pois aqueles dias serão maus...”
“Cuidado que as conseqüências da orgia, da dissolução, da embriaguez e das preocupações deste mundo não vos apanhem como um laço”.
Na Parábola do Semeador Jesus diz que os agentes que podem matar a Palavra no coração são principalmente os seguintes:
1. O mundo espiritual: “Vem o diabo e arrebata a Palavra do coração...”;
2. O mundo interior: “...a terra era pouca, e o solo era pedregoso...”;
3. O mundo exterior: “... mas havia espinho, os quais sufocaram a semente”...;
Ora, em todos os casos, não importando o agente do desanimo na alma, Jesus manda vigiar sem que se considere um perigo maior do que o outro.
Assim, tanto faz quem faz o quê em nós!
Sim! O diabo, o mundo interior e o mundo exterior, todos, são igualmente agentes da mesma desgraça em nós: roubar, matar ou sufocar a Palavra.
O diabo pode roubar a Palavra. O mundo interior pode ser impermeável à Palavra, quando ela tenta descer sua profundidade em nossa vida. O mundo exterior sufoca a Palavra, não deixando que ela fique só em nós, tamanha é a concorrência dos espinhos exteriores do mundo.
Jesus, no entanto, não trabalha com álibis.
Desse modo, tanto faz, pois, o que interessa a Jesus é o resultado de vida ou morte, e não o agente da vida ou da morte.
Assim, não há em Jesus o que não há na vida!
Portanto, se faz mal, se tira a pessoa do caminho da Vida e da vereda da Palavra, para Jesus basta.
Não há hierarquia de perigos ou de agentes de perigo. Se o resultado é que a Palavra não se instalou na pessoa, tanto faz se foi o diabo que roubou a Palavra, ou se foi a indisposição interior que a pedrou no ser, ou se foi o mundo, com seus espinhos, o poder que sufocou a Palavra no coração.
Desse modo, se em Jesus não há acusações, também, Nele, não há desculpas.
Sim! Pois, lá no fundo, tanto faz mesmo; e um dia ficaremos sabendo.
E o que ficaremos sabendo?
Ora, saberemos que o homem podia decidir muito mais do que ele quis decidir, e que, por isto, se de um lado ele pode ser vítima do diabo, das tendências interiores e do mundo; de outro lado, ele não terá desculpas a dar; pois, pelo que Jesus insinua, o dia rouba a semente, mas o homem tem que consentir; o mundo interior e seus caprichos influenciam as decisões do homem, mas ele tem que deixar que tal determinação se estabeleça nele; e o mundo exterior pode impor seu fluxo, mas o homem tem que se entregar a ele.
Jesus trata tudo assim, pois, é assim que as coisas são.
Portanto, não vemos Jesus fazendo psicologia de consolações vazias e que mantêm a pessoa no estado de acomodação.
O diabo existe; o interior humano tem seu poder de manifestação à revelia; o mundo-sistema-exterior também carrega seu poder monstruoso — mas nenhum deles é legitimado por Jesus como sendo um poder invencível.
O tempo presente é estranho...
Hoje o que se vê é que se a semente não fica no coração, a culpa é do diabo; se o mundo interior se fechou para a Palavra, a culpa é dos humores e dos traumas psicológicos, do pai, da mãe, e da cultura do “coitado empedernido”; se os poderes da sedução do mundo chegam com seus encantos de morte e de alienação, então, a culpa é do sistema perverso.
O homem, porém, é apenas um nada. Sim! É cada vez mais visto como uma vitima de tudo.
Jesus, no entanto, jamais enganaria o homem com justificativas para que ele se mate e mate à sua volta.
Não! Para Jesus o diabo existe, mas a culpa de não reter a Palavra é do homem. O coração é enganoso, mas a culpa de não acolher a Palavra é do homem. O mundo é mau, mas o mundo é produção do homem em associação com o diabo, sendo, portanto, responsabilidade de todo homem lidar com o mundo sem achar nele álibis para a morte.
É com essa objetividade que Jesus trata as coisas mais decisivas desta existência.
O homem sábio crê, vigia e pratica o que Jesus ensinou; e não busca molezas e nem desculpas, pois, o caminho de um homem não é como o caminho dos meninos adulados.
Afinal, que direi se não guardo a Palavra? Que foi o diabo que a roubou de meu coração? Que a culpa é da minha constituição refratária ao amor? Que a responsabilidade de meu desvio da boa vereda é do mundo, que me seduziu?
Eu sei que a responsabilidade é minha!
Espero que você saiba que é sua também!
Nele, que nos chama à vida e não às desculpa para que se não viva,
Caio
9 de janeiro de 2009
Lago Norte
Brasília
DF
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